|
Índice
Crítica/"Paranóia Americana"
Filme pega carona no terrorismo, mas acaba como thriller de perseguição
Divulgação
|
|
Peter Krause, produtor do filme, interpreta americano comum
CRÍTICO DA FOLHA
Depois que o terrorismo
se converteu na chave
que inaugurou o século
21, seus efeitos se instalaram na
ficção para o bem e para o mal.
Se, de um lado, o tema conseguiu alimentar e renovar parte
da ficção televisiva inoculando
atualidade em produções como
"24 Horas" e "The West Wing",
de outro também é capaz de vitimar propostas cinematográficas calculadas demais, como
"Paranóia Americana".
Produzido e protagonizado
por Peter Krause, o Nate do seriado "A Sete Palmos", o filme
pega carona no medo disseminado nos EUA a partir do 11 de
Setembro. A demonização dos
imigrantes do Oriente Médio
que se seguiu aos atentados de
2001 serve aqui para a exposição da má consciência de um
contador desempregado, representante do homem comum americano.
Terry Allen é esta vítima virtual do terror, movido por uma
síndrome de perseguição que o
leva a suspeitar de um vizinho
de origem árabe recém-instalado. A suspeita logo se converte
em ações ilegais, desrespeito à
diversidade e, por fim, alcança
um patamar que não fica longe
do de filmes como os da série
"Desejo de Matar".
A primeira parte é ligeiramente interessante, com a disseminação do medo apresentada como efeito do excesso de
informação que Allen consome
pela TV. Depois, contudo, o filme transforma-se em não mais
que um thriller calcado no esquema da perseguição, e os temas que havia esboçado na introdução são abandonados.
Em vez de adotar um discurso abertamente político, "Paranóia Americana" prefere recorrer a um posicionamento que
se supõe neutro, transferindo
as razões do personagem para o
domínio da loucura.
Abrigado dos riscos da realidade, Terry pode então passar
do lugar de vítima ao de algoz
sem que nada disso altere o discurso simplista do filme.
Mas, ao pretender parecer
"engajado" apenas invertendo
os pólos do bem e do mal, "Paranóia Americana" se esquece
que o público ao qual ele se dirige pode considerá-lo equivocado.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)
Avaliação: ruim
Índice
|