São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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Crítica/"Paranóia Americana"

Filme pega carona no terrorismo, mas acaba como thriller de perseguição

Divulgação
Peter Krause, produtor do filme, interpreta americano comum

CRÍTICO DA FOLHA

Depois que o terrorismo se converteu na chave que inaugurou o século 21, seus efeitos se instalaram na ficção para o bem e para o mal. Se, de um lado, o tema conseguiu alimentar e renovar parte da ficção televisiva inoculando atualidade em produções como "24 Horas" e "The West Wing", de outro também é capaz de vitimar propostas cinematográficas calculadas demais, como "Paranóia Americana".
Produzido e protagonizado por Peter Krause, o Nate do seriado "A Sete Palmos", o filme pega carona no medo disseminado nos EUA a partir do 11 de Setembro. A demonização dos imigrantes do Oriente Médio que se seguiu aos atentados de 2001 serve aqui para a exposição da má consciência de um contador desempregado, representante do homem comum americano.
Terry Allen é esta vítima virtual do terror, movido por uma síndrome de perseguição que o leva a suspeitar de um vizinho de origem árabe recém-instalado. A suspeita logo se converte em ações ilegais, desrespeito à diversidade e, por fim, alcança um patamar que não fica longe do de filmes como os da série "Desejo de Matar".
A primeira parte é ligeiramente interessante, com a disseminação do medo apresentada como efeito do excesso de informação que Allen consome pela TV. Depois, contudo, o filme transforma-se em não mais que um thriller calcado no esquema da perseguição, e os temas que havia esboçado na introdução são abandonados.
Em vez de adotar um discurso abertamente político, "Paranóia Americana" prefere recorrer a um posicionamento que se supõe neutro, transferindo as razões do personagem para o domínio da loucura.
Abrigado dos riscos da realidade, Terry pode então passar do lugar de vítima ao de algoz sem que nada disso altere o discurso simplista do filme.
Mas, ao pretender parecer "engajado" apenas invertendo os pólos do bem e do mal, "Paranóia Americana" se esquece que o público ao qual ele se dirige pode considerá-lo equivocado. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

Avaliação: ruim



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