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DANÇA
Coreógrafo estréia adaptação de Franz Kafka amanhã na Oficina Cultural Oswald de Andrade, com grupo FAR-15
Borelli amadurece com "A Metamorfose"
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A história de Gregor Samsa, o
caixeiro-viajante que um dia
acorda transformado em barata,
está inspirando mais um espetáculo de dança. Eterna fonte de
inspiração para artistas cênicos de
todas as épocas, o livro "A Metamorfose", escrito por Franz Kafka
em 1915, recebe agora uma interpretação corporal do bailarino e
coreógrafo Sandro Borelli.
A partir de amanhã, na Oficina
Cultural Oswald de Andrade, Borelli e seu grupo, o FAR-15, somam ao repertório o novo espetáculo, que conservou o título original da novela de Kafka (1883-1924). Com uma hora de duração,
"A Metamorfose" de Borelli escapa da representação literal para
construir o que ele chama de
"movimentação dramatizada"
sobre a obra do escritor tcheco.
"Embora meus espetáculos tenham afinidade com a obra de
Kafka, eu tinha receio de abordá-la porque se trata de um ícone
universal. Mas agora já me sinto
mais maduro para interpretar
uma peça como "A Metamorfose",
que fala de sentimentos como o
de isolamento no mundo, a falta
de alternativas, a culpa e a opressão", diz Borelli.
Como todos os demais livros de
Kafka, "A Metamorfose" só foi
publicado após a morte do escritor. Entre as interpretações que
recebeu ao longo do século 20, inclui-se a de Steven Berkoff, encenada em Nova York no final dos
anos 80, com o bailarino Mikhail
Baryshnikov no papel de Gregor
Samsa. Apesar da repercussão, a
peça foi um fracasso de crítica.
Borelli, que não viu a versão de
Berkoff, se baseou unicamente na
obra de Kafka para experimentar
uma interpretação que exclui as
simulações habituais, com bailarinos tentando se mover como insetos (como fez Baryshnikov).
"A obra é uma grande metáfora,
e nós aproveitamos para levar essa qualidade à beira do realismo
fantástico." Na versão, é uma peça
de vestuário, um sobretudo negro, que simboliza Gregor Samsa,
o qual não é interpretado por um
integrante específico do elenco.
"Esse casaco passa por todas as
cenas e também simboliza a anulação do ego do intérprete. Em
nosso espetáculo, Gregor continua sendo o personagem eternamente atual, que encarna a condição existencial de todos nós."
Na carreira de Borelli, "A Metamorfose" marca mais uma criação associada à literatura. Ex-bailarino do Balé da Cidade de São
Paulo, ele já concebeu espetáculos
inspirados em textos de Augusto
dos Anjos e Martin Sherman.
A METAMORFOSE - de Sandro Borelli,
com o grupo FAR-15. De amanhã a 8/12
(sextas e sábados, às 21h, e domingos, às
20h), na Oficina Cultural Oswald de
Andrade (r. Três Rios, 363, Bom Retiro,
tel. 221-4704). Entrada franca.
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