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Crítica/cinema/"Um Ano sem Amor"
Filme argentino observa "família" gay sem escândalo nem preconceito
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das instituições
que relações homossexuais costumam colocar em xeque é a família. Fugindo do modelo tradicional, os
gays costumam criar círculos
de amizades que substituem a
estrutura nuclear marido-mulher-filhos com seus desdobramentos. Nem por isso deixam
de constituir uma nova forma
de "família".
Esse é um dos assuntos abordados em "Um Ano sem Amor",
primeiro longa do diretor Anahí Berneri, que venceu o Teddy,
premiação gay vinculada ao
Festival de Berlim, e é exibido
hoje no Festival Mix Brasil. Em
meio ao que se tem denominado novo cinema argentino, é a
segunda produção com orientação gay que tem projeção internacional, após o sucesso
"Plata Quemada", de Marcelo
Piñeyro, realizado em 2000.
Enquanto isso, no Brasil...
Enfim, "Um Ano sem Amor"
foi baseado nos diários do escritor Pablo Perez, que assina o
roteiro com Berneri. Pablo, interpretado por Juan Minujín, é
um professor de literatura que
regressa da Europa a Buenos
Aires após perder o namorado
em decorrência da Aids e que se
descobre também soropositivo.
Por acreditar que o coquetel de
remédios não faz efeito (os diários reais foram escritos em
1996, no início da implantação
dessas drogas), Pablo recusa o
medicamento e crê contar apenas com um ano de vida. Por isso, passa a registrar sua vida em
um diário e a freqüentar clubes
de sexo.
Num desses clubes, Pablo
descobre um novo circuito de
amigos, com os quais compartilha mais sua vida do que com a
tia, com quem vive, e o pai distante, que só encontra para pedir dinheiro.
Enquanto Pablo ignora suas
relações familiares de sangue
-seu pai nem sequer sabe que é
portador do vírus-, ele constrói um novo círculo, que melhor compreende seus desejos e
suas atitudes. Amor ele busca
fora das relações convencionais, usando até mesmo salas
de bate-papo como ferramenta
de novos encontros.
É nesse sentido que ganha
valor "Um Ano sem Amor",
pois o filme apresenta essas novas relações familiares, no conceito expandido, sem transformá-las em uma situação decadente, como costuma ocorrer.
Há cenas em clubes sadomasoquistas, em cinemas de "pegação", de encontros casuais,
mas nada dentro da estética
barra-pesada e cheia de culpa
de "Querelle", de Rainer Werner Fassbinder, um clássico do
gênero. Na produção argentina,
distintas formas de sexo são
tratadas sem escândalo e como
busca de felicidade.
A libertação final de Pablo
ocorre quando ele publica seus
diários, o que vai provocar o
rompimento com o pai, que lê o
livro sem o conhecimento do filho. Família não é o único lugar
onde se encontra amor.
(FC)
UM ANO SEM AMOR
Direção: Anahí Berneri
Produção: Argentina, 2005
Com: Juan Minujín e Mimí Ardú
Quando: hoje, 22h, no Espaço
Unibanco
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