São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

Texto Anterior | Índice

Crítica/cinema/"Um Ano sem Amor"

Filme argentino observa "família" gay sem escândalo nem preconceito

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das instituições que relações homossexuais costumam colocar em xeque é a família. Fugindo do modelo tradicional, os gays costumam criar círculos de amizades que substituem a estrutura nuclear marido-mulher-filhos com seus desdobramentos. Nem por isso deixam de constituir uma nova forma de "família".
Esse é um dos assuntos abordados em "Um Ano sem Amor", primeiro longa do diretor Anahí Berneri, que venceu o Teddy, premiação gay vinculada ao Festival de Berlim, e é exibido hoje no Festival Mix Brasil. Em meio ao que se tem denominado novo cinema argentino, é a segunda produção com orientação gay que tem projeção internacional, após o sucesso "Plata Quemada", de Marcelo Piñeyro, realizado em 2000.
Enquanto isso, no Brasil... Enfim, "Um Ano sem Amor" foi baseado nos diários do escritor Pablo Perez, que assina o roteiro com Berneri. Pablo, interpretado por Juan Minujín, é um professor de literatura que regressa da Europa a Buenos Aires após perder o namorado em decorrência da Aids e que se descobre também soropositivo.
Por acreditar que o coquetel de remédios não faz efeito (os diários reais foram escritos em 1996, no início da implantação dessas drogas), Pablo recusa o medicamento e crê contar apenas com um ano de vida. Por isso, passa a registrar sua vida em um diário e a freqüentar clubes de sexo.
Num desses clubes, Pablo descobre um novo circuito de amigos, com os quais compartilha mais sua vida do que com a tia, com quem vive, e o pai distante, que só encontra para pedir dinheiro.
Enquanto Pablo ignora suas relações familiares de sangue -seu pai nem sequer sabe que é portador do vírus-, ele constrói um novo círculo, que melhor compreende seus desejos e suas atitudes. Amor ele busca fora das relações convencionais, usando até mesmo salas de bate-papo como ferramenta de novos encontros.
É nesse sentido que ganha valor "Um Ano sem Amor", pois o filme apresenta essas novas relações familiares, no conceito expandido, sem transformá-las em uma situação decadente, como costuma ocorrer.
Há cenas em clubes sadomasoquistas, em cinemas de "pegação", de encontros casuais, mas nada dentro da estética barra-pesada e cheia de culpa de "Querelle", de Rainer Werner Fassbinder, um clássico do gênero. Na produção argentina, distintas formas de sexo são tratadas sem escândalo e como busca de felicidade.
A libertação final de Pablo ocorre quando ele publica seus diários, o que vai provocar o rompimento com o pai, que lê o livro sem o conhecimento do filho. Família não é o único lugar onde se encontra amor. (FC)


UM ANO SEM AMOR    
Direção:
Anahí Berneri
Produção: Argentina, 2005
Com: Juan Minujín e Mimí Ardú
Quando: hoje, 22h, no Espaço Unibanco


Texto Anterior: Crítica/música/musikFabrik: Conjunto de câmara da Alemanha apresenta repertório de vanguarda
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.