São Paulo, terça-feira, 14 de dezembro de 2004

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LITERATURA

Editora Fina Flor lança hoje quatro obras feitas artesanalmente com tiragem de apenas 80 exemplares

Autores confeccionam livros de ver e ler

LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Estive com saudades de coisas novas e me lembrei de você." A editora Fina Flor lança hoje, às 19h, na galeria Vermelho, quatro "suvenires de literatura", como define uma de suas sócias, Cristiane Lisbôa, 23.
Em duas semanas, a artista plástica Pinky Wainer, a estilista Rita Wainer, o designer Miranda e o crítico da Folha Xico Sá escreveram, montaram, pintaram e bordaram literalmente seus próprios livros, que terão apenas 80 exemplares cada um, todos com intervenções artesanais.
"A Fina Flor propõe uma parceria com o autor. Não impomos nada, não alteramos textos ou imagens. Não queremos que artista e obra se distanciem como acontece em muitos casos, em que o escritor nem reconhece o que há de seu trabalho numa capa imposta", argumenta Lisbôa.
E foi justamente esse passe livre que fascinou Pinky Wainer, 50. "A mim incomoda muito essa coisa de tudo o que se faz ter um cliente na ponta", desabafa a artista, que já desenvolveu muitos trabalhos com editoras comerciais na elaboração de capas e design de livros. "Eu sempre tive vontade de trabalhar com livros com liberdade total", completa.
Desejo agora concretizado com o lançamento de "Vendo Alma Vagabunda com Tatuaje del Che" (R$ 80). Compilação de trabalho, o livro de Pinky Wainer é o registro em frases, fotos, desenhos e recortes - material recolhido desde a década de 80- de um percurso marcadamente ideológico: "Cada dia fico mais indignada com o que se tem feito com aqueles que não estão no poder", destaca ela. Ao mesmo tempo, cada página carrega a busca da artista por uma expressão contemporânea, não só politicamente, mas também no plano estético. "Se Picasso fosse vivo, ele não ia sair do photoshop", supõe.
Voltada para um universo mais intimista, às avessas da mãe -como visto acima-, Rita Wainer, 27, tece sobre páginas de feltro cor-de-rosa e algodão uma narrativa introspectiva e estampada de melancolia, em "I'm Not Alone" (R$ 100). "Preferi não sair do meu universo, trabalhando com os materiais que uso para fazer as roupas e também com sentimentos internos", conta a estilista.
Sobre frases como "enquanto isso/bordava você ouvindo a mais bela canção de amor" e "... desculpa aí, Deus... valeu mesmo mas agora já foi./ me virei sozinha", a estilista alinhava a história de uma menina triste, enredo que às vezes contrasta com o brilho dos paetês, pérolas e cristais que integram a obra. "Sempre achei beleza na tristeza", diz a estilista.
Que a capa em forma de caixão - de madeira e com um espelhinho que reflete a imagem de quem olha para ela, como a do morto- , de "A Defunta" (R$ 69), de Miranda, 28, não afugente. "O tema não é exatamente a morte, mas a solidão", diz o autor.
A variedade de manifestações trabalhadas por ele sobre um mesmo tema e suporte merece ser conferida, desde o flip book, que simula uma cruz em procissão, até o microconto, no qual dois personagens conversam diante do corpo de alguém que amaram.
"Se um Cão Vadio aos Pés de uma Mulher Abismo" (R$ 51), de Xico Sá, é uma coletânea de "dores de amor". Em espécies de entrevistas disfarçadas, o autor colheu histórias em bares, manicures, dedicatórias de livros, ouviu amigas, vasculhou lixos e sarjetas. "Fiquei espantado com a quantidade de cartões de amor que são jogados fora", diz Sá.
Desses restos de tantas histórias que acabaram, ele construiu uma narrativa com várias vozes, mas também autobiográfica.


LANÇAMENTOS DA EDITORA FINA FLOR. Com exibição do vídeo "Sem Título", de Frank Dezeuxis e Rodrigo Garcia Dutra e apresentação da performer Renata Bastos. Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, Higienópolis, SP, tel. 3257-2033). Quando: hoje, às 19h. Quanto: entrada franca. Os livros podem ser comprados pelo site www.editorafinaflor.com.


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