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LITERATURA
Editora Fina Flor lança hoje quatro obras feitas artesanalmente com tiragem de apenas 80 exemplares
Autores confeccionam livros de ver e ler
LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO
"Estive com saudades de coisas
novas e me lembrei de você." A
editora Fina Flor lança hoje, às
19h, na galeria Vermelho, quatro
"suvenires de literatura", como
define uma de suas sócias, Cristiane Lisbôa, 23.
Em duas semanas, a artista plástica Pinky Wainer, a estilista Rita
Wainer, o designer Miranda e o
crítico da Folha Xico Sá escreveram, montaram, pintaram e bordaram literalmente seus próprios
livros, que terão apenas 80 exemplares cada um, todos com intervenções artesanais.
"A Fina Flor propõe uma parceria com o autor. Não impomos
nada, não alteramos textos ou
imagens. Não queremos que artista e obra se distanciem como
acontece em muitos casos, em
que o escritor nem reconhece o
que há de seu trabalho numa capa
imposta", argumenta Lisbôa.
E foi justamente esse passe livre
que fascinou Pinky Wainer, 50.
"A mim incomoda muito essa
coisa de tudo o que se faz ter um
cliente na ponta", desabafa a artista, que já desenvolveu muitos trabalhos com editoras comerciais
na elaboração de capas e design
de livros. "Eu sempre tive vontade
de trabalhar com livros com liberdade total", completa.
Desejo agora concretizado com
o lançamento de "Vendo Alma
Vagabunda com Tatuaje del Che"
(R$ 80). Compilação de trabalho,
o livro de Pinky Wainer é o registro em frases, fotos, desenhos e recortes - material recolhido desde a década de 80- de um percurso marcadamente ideológico:
"Cada dia fico mais indignada
com o que se tem feito com aqueles que não estão no poder", destaca ela. Ao mesmo tempo, cada
página carrega a busca da artista
por uma expressão contemporânea, não só politicamente, mas
também no plano estético. "Se Picasso fosse vivo, ele não ia sair do
photoshop", supõe.
Voltada para um universo mais
intimista, às avessas da mãe -como visto acima-, Rita Wainer,
27, tece sobre páginas de feltro
cor-de-rosa e algodão uma narrativa introspectiva e estampada de
melancolia, em "I'm Not Alone"
(R$ 100). "Preferi não sair do meu
universo, trabalhando com os
materiais que uso para fazer as
roupas e também com sentimentos internos", conta a estilista.
Sobre frases como "enquanto
isso/bordava você ouvindo a mais
bela canção de amor" e "... desculpa aí, Deus... valeu mesmo mas
agora já foi./ me virei sozinha", a
estilista alinhava a história de
uma menina triste, enredo que às
vezes contrasta com o brilho dos
paetês, pérolas e cristais que integram a obra. "Sempre achei beleza na tristeza", diz a estilista.
Que a capa em forma de caixão
- de madeira e com um espelhinho que reflete a imagem de
quem olha para ela, como a do
morto- , de "A Defunta" (R$
69), de Miranda, 28, não afugente.
"O tema não é exatamente a morte, mas a solidão", diz o autor.
A variedade de manifestações
trabalhadas por ele sobre um
mesmo tema e suporte merece ser
conferida, desde o flip book, que
simula uma cruz em procissão,
até o microconto, no qual dois
personagens conversam diante
do corpo de alguém que amaram.
"Se um Cão Vadio aos Pés de
uma Mulher Abismo" (R$ 51), de
Xico Sá, é uma coletânea de "dores de amor". Em espécies de entrevistas disfarçadas, o autor colheu histórias em bares, manicures, dedicatórias de livros, ouviu
amigas, vasculhou lixos e sarjetas.
"Fiquei espantado com a quantidade de cartões de amor que são
jogados fora", diz Sá.
Desses restos de tantas histórias
que acabaram, ele construiu uma
narrativa com várias vozes, mas
também autobiográfica.
LANÇAMENTOS DA EDITORA FINA
FLOR. Com exibição do vídeo "Sem
Título", de Frank Dezeuxis e Rodrigo
Garcia Dutra e apresentação da
performer Renata Bastos. Onde: galeria
Vermelho (r. Minas Gerais, 350,
Higienópolis, SP, tel. 3257-2033).
Quando: hoje, às 19h. Quanto: entrada
franca. Os livros podem ser comprados
pelo site www.editorafinaflor.com.
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