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A atriz Jennifer Carpenter em 'Quarentena', remake americano do filme espanhol '[REC]'

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

De acordo com a lógica predominante na indústria norte-americana, bons filmes estrangeiros são refilmados nos Estados Unidos para que a história seja falada em inglês, o elenco tenha rostos conhecidos e a ação ganhe elementos caseiros, tudo para "aperfeiçoar" o produto.
Em geral, no entanto, o que se vê nesses casos é a mera descaracterização do longa original sem que haja alguma contribuição notável, como ocorre em "Quarentena", refilmagem da produção espanhola "[REC]" (2007), de Jaume Balagueró e Paco Plaza, com roteiro de ambos e de Luis Berdejo.
Orçado em 1,5 milhão, "[REC]" executa com inventividade e eficácia um conceito simples para filme de terror, semelhante ao de "A Bruxa de Blair" (1999): toda a história é mostrada pela câmera de uma equipe de TV que acompanha uma chamada ao corpo de bombeiros de Barcelona.
Há algo de rústico na qualidade da imagem e nos movimentos imprevistos de câmera a partir do momento em que uma ocorrência banal se transforma em algo inexplicável. Realizado com orçamento seis vezes maior, "Quarentena" opta por um padrão visual mais "limpo", o que compromete o próprio conceito e, por tabela, o envolvimento do público.
Embora procure ser fiel aos enquadramentos de "[REC]", como se quisesse impressionar o professor com uma lição copiada de enciclopédia, o diretor e roteirista John Erick Dowdle acrescenta detalhes locais à trama, como piadas sexistas entre os bombeiros e a repórter (Jennifer Carpenter).
Além disso, enxerta na trama mais escatologia e violência explícita - que tal uma broca perfurando um cérebro? E, à moda americana, prefere também apresentar outra explicação para os eventos, abrindo mão do que em "[REC]" ecoava a tradição católica espanhola.
Dólares em uma das mãos e euros na outra: Balagueró e Plaza se dedicam no momento à continuação, novamente com Manuela Velasco (a criança de "A Lei do Desejo", de Pedro Almodóvar) no papel da repórter que daria tudo para ter ficado em casa naquela noite.