VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ator-MC. É assim que o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, formado há três anos, designa seu intérprete. A expressão define o artista nascido do casamento estético do teatro com a cultura hip hop, "homem de depoimentos gerados pela urgência provocada pelas situações e contradições da rua", como afirma a atriz e autora Cláudia Schapira.
Um exemplo de afirmação da nova linguagem acontece hoje no Teatro Municipal, quando o grupo recebe o rapper Xis para participação especial na segunda sessão do espetáculo "Bartolomeu, Que Será que Nele Deu?". O evento integra a Mostra São Paulo Teatro na Cidade, com apresentações gratuitas às 18h e às 21h.
O processo pede ainda um autor-artista, amplia o DJ Eugênio Lima, diretor musical. É preciso apropriar-se do discurso como "uma extensão de seu depoimento de vida e não apenas como uma mimese poética da realidade". Continua: "O autor-artista assume sua plenitude como agente da história e como poeta das contradições humanas".
Livremente inspirado no conto "Bartebly, Um Escriturário", do norte-americano Herman Melville (1819-1891), "Bartolomeu, Que Será que Nele Deu?" narra a história de um digitador de escritório de advocacia que, oprimido pelo cotidiano, decide interromper suas atividades, causando uma "revolução" entre aqueles que o cercam.
A fala-canto dos atores-MCs (mestres de cerimônia), o som do DJ (Lima), a voz de uma MC (Mariana Lima), a percussão (Leandro Feigenblatt), a cenografia do grafiteiro Júlio Docjsar, os b-boys, enfim, tudo converge para uma cena-manifesto.
Plenas em simbolismos (o Municipal, o centro da cidade, a presença de Xis), Schapira afirma que as apresentações de hoje vão "decretar" o teatro-hip hop, essência do projeto "Urgência nas Ruas", com o qual o Núcleo Bartolomeu ganhou o Programa Municipal de Fomento ao Teatro.
Em março, o grupo estréia "Acordei que Sonhava", inspirado em "A Vida É Sonho", do espanhol Calderón de La Barca (1600-1681). Em paralelo, leva intervenções em locais públicos com o "Urgência nas Ruas"