São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2010

Texto Anterior | Índice

Magnelli mistura cubismo e futurismo

Italiano com retrospectiva no MAC foi um dos primeiros abstracionistas de seu país

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

No leito de morte, Alberto Magnelli insistiu que em sua lápide ficasse gravada só a frase "pintor florentino".
De fato, Magnelli passou boa parte da vida no berço renascentista que foi Florença, mas extrapolou em sua obra todos os limites da arte clássica e acabou ficando conhecido como um dos primeiros pintores abstratos da Itália.
E não foi uma abstração comum. Ele começou imitando cubistas, também flertando com o futurismo que viu surgir no início do século passado, e acabou criando um estilo único, formas encaixotadas em contraste com linhas abertas e cores fortes.
Essas oscilações entre cubismo e futurismo, além de certos arroubos surrealistas, aparecem na retrospectiva do artista agora no Museu de Arte Contemporânea da USP, no Ibirapuera.
Logo na entrada da mostra, uma série de quadros atesta sua devoção um tanto ingênua ao cubismo de Paris.
De sua casa, em Florença, Magnelli só tinha acesso às reproduções em preto e branco das telas de Picasso, Georges Braque e Juan Gris que apareciam nas revistas.
"Ele conhecia a forma, mas suas cores são todas inventadas", resume o francês Daniel Abadie, curador da exposição. "Não têm a ver com as cores dos cubistas."
No lugar da paleta rebaixada, de ocres, cinzas, azuis e marrons que marcaram o cubismo nascente, Magnelli carrega nos tons alaranjados e vibrantes de "L'Homme Qui Fume", derivado de Picasso.

GUERRAS
Mas sua obra ganha outra dimensão e outros contornos no período das guerras. Preso em Florença durante a Primeira Guerra, termina criando a própria abstração, com certa referência à arquitetura plástica de Fernand Léger, mas mais interessado na estrutura do que na imagem.
Radicado em Paris durante a Segunda Guerra, leva essa abstração a planos mais radicais. Não abandona as figuras, mas relega a um segundo plano seus personagens cifrados, alegóricos.
Entre um conflito e outro, fez a série que sintetiza sua obra. No ciclo "Pierres", ele mergulha nas cores dos afrescos que viu em Florença e atualiza essa herança construindo figuras abstratas com textura de pedra.
Nessa abstração mais pé no chão, de monstros e vultos, Magnelli fundiu pintura e escultura, plasmando uma imagem potente do século 20, algum lugar no meio do caminho entre Picasso e o fascismo dos futuristas.


ALBERTO MAGNELLI
QUANDO
de ter. a dom., das 10h às 18h; até 12/9
ONDE MAC USP (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 5573-9932)
QUANTO grátis



Texto Anterior: Coreografia: Hilda Hilst inspira espetáculo de dança que tem estreia hoje em SP
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.