|
Texto Anterior | Índice
Magnelli mistura cubismo e futurismo
Italiano com retrospectiva no MAC foi um dos primeiros abstracionistas de seu país
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
No leito de morte, Alberto
Magnelli insistiu que em sua
lápide ficasse gravada só a
frase "pintor florentino".
De fato, Magnelli passou
boa parte da vida no berço renascentista que foi Florença,
mas extrapolou em sua obra
todos os limites da arte clássica e acabou ficando conhecido como um dos primeiros
pintores abstratos da Itália.
E não foi uma abstração
comum. Ele começou imitando cubistas, também flertando com o futurismo que viu
surgir no início do século
passado, e acabou criando
um estilo único, formas encaixotadas em contraste com
linhas abertas e cores fortes.
Essas oscilações entre cubismo e futurismo, além de
certos arroubos surrealistas,
aparecem na retrospectiva
do artista agora no Museu de
Arte Contemporânea da USP,
no Ibirapuera.
Logo na entrada da mostra, uma série de quadros
atesta sua devoção um tanto
ingênua ao cubismo de Paris.
De sua casa, em Florença,
Magnelli só tinha acesso às
reproduções em preto e branco das telas de Picasso, Georges Braque e Juan Gris que
apareciam nas revistas.
"Ele conhecia a forma,
mas suas cores são todas inventadas", resume o francês
Daniel Abadie, curador da
exposição. "Não têm a ver
com as cores dos cubistas."
No lugar da paleta rebaixada, de ocres, cinzas, azuis
e marrons que marcaram o
cubismo nascente, Magnelli
carrega nos tons alaranjados
e vibrantes de "L'Homme Qui
Fume", derivado de Picasso.
GUERRAS
Mas sua obra ganha outra
dimensão e outros contornos
no período das guerras. Preso em Florença durante a Primeira Guerra, termina criando a própria abstração, com
certa referência à arquitetura
plástica de Fernand Léger,
mas mais interessado na estrutura do que na imagem.
Radicado em Paris durante a Segunda Guerra, leva essa abstração a planos mais
radicais. Não abandona as figuras, mas relega a um segundo plano seus personagens cifrados, alegóricos.
Entre um conflito e outro,
fez a série que sintetiza sua
obra. No ciclo "Pierres", ele
mergulha nas cores dos
afrescos que viu em Florença
e atualiza essa herança construindo figuras abstratas
com textura de pedra.
Nessa abstração mais pé
no chão, de monstros e vultos, Magnelli fundiu pintura
e escultura, plasmando uma
imagem potente do século
20, algum lugar no meio do
caminho entre Picasso e o
fascismo dos futuristas.
ALBERTO MAGNELLI
QUANDO de ter. a dom., das 10h às
18h; até 12/9
ONDE MAC USP (pq. Ibirapuera,
portão 3, tel. 5573-9932)
QUANTO grátis
Texto Anterior: Coreografia: Hilda Hilst inspira espetáculo de dança que tem estreia hoje em SP Índice
|