São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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TEATRO - CRÍTICA
Cenário mágico garante "Uma Noite na Lua"

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

É inevitável, ao falar do cenário de "Uma Noite na Lua", mencionar outro monólogo que passou pelo país, há três anos. "Needles and Opium", do canadense Robert Lepage, tinha o salto do ator sobre a tela de fundo, também as projeções em sombra, além de uma ou outra imagem próxima.
O encenador/cenógrafo João Falcão não esconde a inspiração e chega até a fazer uma auto-ironia: no momento em que a peça fala em plagiar, em "pegar idéias" dos outros, ele joga no palco a cena mais próxima de Lepage.
Falcão nada tem a esconder e faz da cenografia o ingrediente mais fascinante, verdadeiramente "mágico" desta sua "noite na Lua". As projeções de vídeo, que aliás nada têm a ver com o espetáculo anterior, são impactantes, bem como o abuso de gelo seco e até a divisão das telas de fundo em três, cercando o ator.
Já que o tema era a criação em arte, o cenógrafo João Falcão se permitiu brincar. O mesmo não se pode dizer do autor João Falcão nem do ator Marco Nanini.
O tema algo metalinguístico escolhido pelo autor -que fez "A Dona da História" em tom semelhante, com Marieta Severo- exigia mais do que a comédia romântica, do que o esdrúxulo monólogo cômico romântico que "Uma Noite na Lua" se revelou.
A peça versa interminavelmente sobre Berenice, a namorada que deixou o dramaturgo interpretado por Marco Nanini, mas que está longe de ser Beatriz, uma musa: o maior interesse do "poeta" em cena, em suas preocupações comezinhas, que se poderiam chamar de classe média, é seduzi-la com seu "sucesso", com o texto escrito para um "ator importante".
Para um monólogo, "Uma Noite na Lua" lembra mais uma comédia comum, com nada de comunicação direta entre palco e platéia, como se vê, por exemplo, nas comédias "stand-up". Obriga o ator a "representar", leva-o a falar aos lados, como que se escondendo da presença do público.
Nanini, um comediante cujas atuações mais marcantes se deram quando esqueceu a chamada quarta parede e falou ao espectador, esforça-se aqui por outros caminhos, de grande exigência física e sobretudo de um ritmo exasperante -e por vezes hilariante- com o texto.
Parece correr com as palavras, querer deixá-las para trás; parece até desejar terminar logo a peça.
Em determinada passagem do texto, no que, afinal de contas, se pretende metalinguagem, Marco Nanini olha finalmente para o público e diz, comentando alguma frase que acabou de representar: "Falso, né?!" Mal sabe ele o quanto existe de verdade nas suas palavras.


Avaliação:    

Peça: Uma Noite na Lua Quando: sex e sáb, às 21h30; dom, às 18h Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 258-3616) Quanto: R$ 25 (sex. e dom.) e R$ 30 (sáb.)

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