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TEATRO - CRÍTICA
Cenário mágico garante "Uma Noite na Lua"
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
É inevitável, ao falar do cenário
de "Uma Noite na Lua", mencionar outro monólogo que passou
pelo país, há três anos. "Needles
and Opium", do canadense Robert Lepage, tinha o salto do ator
sobre a tela de fundo, também as
projeções em sombra, além de
uma ou outra imagem próxima.
O encenador/cenógrafo João
Falcão não esconde a inspiração e
chega até a fazer uma auto-ironia:
no momento em que a peça fala
em plagiar, em "pegar idéias" dos
outros, ele joga no palco a cena
mais próxima de Lepage.
Falcão nada tem a esconder e
faz da cenografia o ingrediente
mais fascinante, verdadeiramente
"mágico" desta sua "noite na
Lua". As projeções de vídeo, que
aliás nada têm a ver com o espetáculo anterior, são impactantes,
bem como o abuso de gelo seco e
até a divisão das telas de fundo em
três, cercando o ator.
Já que o tema era a criação em
arte, o cenógrafo João Falcão se
permitiu brincar. O mesmo não
se pode dizer do autor João Falcão
nem do ator Marco Nanini.
O tema algo metalinguístico escolhido pelo autor -que fez "A
Dona da História" em tom semelhante, com Marieta Severo-
exigia mais do que a comédia romântica, do que o esdrúxulo monólogo cômico romântico que
"Uma Noite na Lua" se revelou.
A peça versa interminavelmente sobre Berenice, a namorada
que deixou o dramaturgo interpretado por Marco Nanini, mas
que está longe de ser Beatriz, uma
musa: o maior interesse do "poeta" em cena, em suas preocupações comezinhas, que se poderiam chamar de classe média, é
seduzi-la com seu "sucesso", com
o texto escrito para um "ator importante".
Para um monólogo, "Uma Noite na Lua" lembra mais uma comédia comum, com nada de comunicação direta entre palco e
platéia, como se vê, por exemplo,
nas comédias "stand-up". Obriga
o ator a "representar", leva-o a falar aos lados, como que se escondendo da presença do público.
Nanini, um comediante cujas
atuações mais marcantes se deram quando esqueceu a chamada
quarta parede e falou ao espectador, esforça-se aqui por outros
caminhos, de grande exigência física e sobretudo de um ritmo
exasperante -e por vezes hilariante- com o texto.
Parece correr com as palavras,
querer deixá-las para trás; parece
até desejar terminar logo a peça.
Em determinada passagem do
texto, no que, afinal de contas, se
pretende metalinguagem, Marco
Nanini olha finalmente para o público e diz, comentando alguma
frase que acabou de representar:
"Falso, né?!" Mal sabe ele o quanto existe de verdade nas suas palavras.
Avaliação:
Peça: Uma Noite na Lua
Quando: sex e sáb, às 21h30; dom, às
18h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 258-3616)
Quanto: R$ 25 (sex. e dom.) e R$ 30
(sáb.)
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