Com narrativa lenta, "De Profundis" é dirigido por Miguelanxo Prado, elogiado autor de quadrinhos da cena europeia

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Pintor presente na animação "De Profundis", título espanhol dirigido por Miguelanxo Prado

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"De Profundis" é uma animação muito diferente de todas que você viu recentemente.
É uma obra que remete aos primórdios dessa arte e que, a cada quadro, deixa patente o longo e delicado processo que a gerou.
O filme é fruto de cinco anos de trabalho do espanhol Miguelanxo Prado, um dos principais ilustradores e autores de "graphic novels" da Espanha.
Para criar sua primeira animação cinematográfica, ele produziu 10 mil desenhos e pinturas, digitalizou as imagens e as uniu sequencialmente no longa de 80 minutos.
Mais do que uma história, Prado quer oferecer uma experiência.
Ainda assim, é possível vislumbrar um fiapo de trama:
"De Profundis" conta uma história de amor entre uma violoncelista, que habita uma casa no meio da água, e um pintor, que se aventura em um barco de pescadores para melhor retratar o habitat marinho.

Sereia
Quando uma tempestade destrói a embarcação, ele é resgatado por uma sereia e inicia uma longa jornada pelas profundezas do oceano.
Se há comparação possível com alguma animação recente, ela deve ser feita em relação à obra de Hayao Miyazaki, de "A Viagem de Chihiro" (2001).
Como o mestre japonês, Prado trabalha artesanalmente com a bidimensionalidade e cria dentro de um ritmo bem mais suave que a média dos desenhos atuais, incluindo aí os melhores trabalhos da Pixar.
Mas, além do estilo visual diferente (menos detalhista e virtuosístico no caso do espanhol), o trabalho de Prado se revela ainda menos preocupado com a narrativa, mais interessado em levar o espectador a compartilhar o transe do seu protagonista pela livre associação de imagens e músicas oníricas (a cargo de Naní Garcia).
Para o espectador acostumado a animações hiperativas destinadas ao público infanto-juvenil, "De Profundis" poderá soar lento e repetitivo.
Para quem não faz questão de gratificações instantâneas, essa ode ao poder encantatório do oceano oferece uma bonita viagem.