São Paulo, terça-feira, 15 de dezembro de 2009

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Crítica/"Ouro Negro"

Saga do petróleo no Brasil parece longa de publicidade

Boa história é prejudicada por cenas repetitivas e fraseado grandiloquente

Divulgação
O ator Danton Mello em cena de "Ouro Negro", longa-metragem dirigido por Isa Albuquerque

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Logo no começo de "Ouro Negro", a imagem mostra José Gosch (Odilon Wagner) refletido, explicando a um menino, seu afilhado, que sob aquela fina camada de água esconde-se o petróleo. Mais ou menos isso. Não tem muita importância o que ele diz, mas a natureza da imagem. Ela é o prefácio do que será o filme: quase duas horas de imagens que mais parecem uma interminável publicidade.
Existe o lado narrativo. Gosch é um alemão que se instalou em Alagoas e desenvolveu pesquisas dando conta da existência de petróleo na região, onde fundou uma companhia petrolífera na altura da Primeira Guerra Mundial.
O filme acompanha a saga, aliás nada desinteressante, da luta dos pioneiros na pesquisa de petróleo no Brasil -o principal sendo, no filme como na vida real, as tensões entre as correntes dos defensores da existência de petróleo e os céticos.
"Ouro Negro" atribui a estes últimos uma série de más intenções, que vão desde os interesses pessoais escusos até a defesa de interesses estrangeiros e/ou de grandes companhias petrolíferas. Não existe mal nenhum em tomar a defesa dos pioneiros do petróleo no Brasil. Sabe-se mesmo que passaram o diabo.
Tolera-se, igualmente, a repartição entre idealistas desinteressados (os que acreditam no petróleo) e interesseiros mais ou menos sórdidos (os céticos), ainda que essa divisão do mundo entre bons e maus pareça uma maneira de infantilizar o espectador.
Ainda assim, dando-se todos os descontos, "Ouro Negro" se afigura tolerável apenas aos espíritos mais acadêmicos. Boa parte da narrativa se passa nos anos 30 do século passado. E, com efeito, o filme parece imitar a narrativa daqueles primeiros e heroicos anos do cinema sonoro, quando os personagens falavam em vez de agir.
Um fraseado grandiloquente, sob o qual os atores vergam, alguns fiapos sobre a conveniência ou não de o governo intervir na questão do petróleo, comissões de inquérito solenes e alguns amores fecham o círculo de convenções dramáticas.
Ele se desenvolve ao longo de uma chuva de cenas repetitivas, que por vezes parecem saídas de um manual de como não escrever roteiros, em que o crescendo do tom usado pelos personagens parece destinado a dar conta da história narrada.
Temos aí, enfim, uma história interessante e que ainda merece ser contada pelo cinema.


OURO NEGRO

Avaliação: regular




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