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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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CINEMA

Mostras apresentam, ao mesmo tempo, filmes de valor técnico e histórico

Feliz coincidência

DA REDAÇÃO

Uma feliz coincidência trouxe a São Paulo de uma só vez mostras que destacam produções de importância histórica e/ou técnica para o cinema. Alguns mais conhecidos, outros em rara oportunidade de serem vistos, são filmes que merecem atenção. Na sala Cinemateca, a mostra "Clássicos da UFA - 1918-1943" perscruta a produção alemã de um período delicado. Antes do fim da Primeira Guerra Mundial, o país viu nascer a Universum Film AG, ou UFA, que seria responsável, principalmente até o começo dos anos 30, por boa parte da produção cinematográfica do país. Criada em 1917 pelo exército alemão como um instrumento de propaganda, a UFA foi oficialmente colocada nas mãos do governo em dezembro daquele ano, e serviria, mais de uma década depois, à propaganda nazista.
Nesse meio tempo, no entanto, o estúdio produziu não apenas filmes memoráveis, mas ajudou a solidificar alguns dos principais nomes do cinema alemão da época, como os diretores Fritz Lang, F. W. Murnau, Ernst Lubitsch e os fotógrafos Karl Freund ("A Última Gargalhada", "Metrópolis") e Carl Hoffmann ("Fausto" e as duas partes de "Os Nibelungos").
Hoje, a mostra apresenta "Os Espiões" e "A Mulher na Lua", duas produções de Fritz Lang. A primeira, um filme de espionagem em que um banqueiro ambicioso arma um complicado jogo de intrigas para ganhar poder, foi o primeiro filme de Lang depois de "Metrópolis", que, com o orçamento estourado -quase três vezes mais alto do que o planejado-, quase levou a UFA à falência. Realizado logo em seguida, "A Mulher na Lua" é uma ficção científica sobre uma expedição que vai ao satélite em busca de ouro. A preocupação com a divulgação de detalhes técnicos levou os nazistas a proibir sua exibição.
Se por um lado a mostra deixa de apresentar clássicos como "Nosferatu" (1922) ou "Metrópolis" (1926), acaba dando espaço a produções menos conhecidas do período mais produtivo da UFA, antes da emigração de muitos de seus profissionais para os EUA e da ascensão de Hitler à chancelaria alemã, em 1933.
A história da Alemanha, aliás, é o tema de "A Patriota" (1979), de Alexander Kluge, ex-assistente de Fritz Lang e um dos principais nomes do chamado novo cinema alemão. O filme faz parte do ciclo "Estratégias da Imagem", no CCBB, e repassa a história do país através de uma professora que a investiga, ao mesmo tempo com ceticismo e curiosidade.
Kluge dá ao filme um toque de documentário e faz da montagem uma aliada ao falar das "muitas histórias" de um país e do que há por trás das palavras que o formam -com "Alemanha" aparecendo na tela logo depois.
A justaposição de passado e presente, sonho e realidade de um escritor, feita pelo diretor francês Alain Resnais em "Providence" (1977), e "Persona" (1966), de Ingmar Bergman, que insiste nos close-ups para dissecar duas personalidades femininas distintas, também são exibidos na mostra.
Mais populares, dois grandes suspenses americanos, "A Marca da Maldade", de Orson Welles, e "Testemunha de Acusação", de Billy Wilder, estarão no Cinusp a partir de amanhã.


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