São Paulo, domingo, 16 de abril de 2006

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TEATRO

Espetáculo do artista plástico Romero de Andrade Lima é apresentado hoje no Sesc Santana com entrada gratuita

Auto concilia os mundos sagrado e pagão

Lenise Pinheiro/Divulgação
Edna Costa e Monica Nassif em "Auto da Paixão"


GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A descrição da encenação "Auto da Paixão", do artista plástico e diretor teatral Romero de Andrade Lima, realizada desde 1993, não se distancia muito da descrição de uma pastoril. As figuras de um presépio, guardadas cada uma em uma caixa, são reunidas em um mesmo altar, em celebração que reconta a história do nascimento de Cristo, com danças e declamações.
Visto pelo seu próprio autor não como uma celebração, mas como uma releitura de algo "muito antigo", o auto -que será encenado gratuitamente neste Domingo de Páscoa no Sesc Santana- se equilibra em um limite tênue que divide a arte contemporânea e a popular, a ponto de já ter sido confundido com uma procissão. "Em uma das apresentações, duas senhoras vieram perguntar se aquilo se tratava de algo cristão ou algo "saravá". Depois de verem que havia elementos da cultura afro, elas disseram: "Deus proteja vocês'", conta Lima.
Essa viagem pelo universo sacro, mas com toque pagão, acaba aproximando o trabalho de Lima ao de seu tio, o escritor Ariano Suassuna (autor de "O Auto da Compadecida"). Só que pouco dramatizado. O que está de fato no centro deste auto são as figuras esculpidas pelo artista em técnica mista, com papel machê e cerâmica entre os materiais. "Não é uma encenação que exija atenção porque todo mundo já conhece a vida de Jesus. As pessoas se deliciam com o que acontece na história, mesmo sabendo como ela começa e como termina."
Questionado se a encenação não acabaria sendo apenas mais uma pastoril, o autor responde: "No Nordeste, o que acontece é que, mesmo querendo contar a mesma história, cada cidade quer contá-la de uma maneira diferente. Eu dei a minha versão".

Permanência
Desde 1993, quando foi encenado pela primeira vez, mais como uma forma de apresentar as esculturas na galeria paulistana Renato Magalhães Gouvêa, o "Auto da Paixão" permanece o mesmo. Passou por várias cidades brasileiras, viajou pela Itália e pela França, sempre com o mesmo elenco, exceto por uma ou outra eventual substituição. Uma surpreendente história para uma encenação que não deveria passar de ambientação em uma mostra.

Auto da Paixão
Quando: apresentação hoje, às 17h
Onde: Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villares, 579, Santana, tel. 6971-8700)
Quanto: entrada gratuita



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