São Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 2009

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Betty Faria volta ao teatro com "Shirley Valentine"

Atriz interpreta dona de casa solitária que ganha de amiga viagem à Grécia

Betty diz que temática do monólogo é "unissex": "A peça mostra que a gente tem muita vida e não usa, se acomoda na solidão"


Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Betty Faria ensaia a peça do inglês Willy Russel, no CCBB

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Quanta gente não conversa com a parede numa noite de domingo, em São Paulo?" Com a pergunta, a atriz Betty Faria, 67, sublinha a universalidade da história de Shirley Valentine, sua personagem no monólogo homônimo, que a reaproxima do teatro, 11 anos depois do último trabalho.
O que as paredes ouvem da dona de casa criada pelo inglês Willy Russell em 1986 é um testemunho de solidão: os filhos emancipados e o marido que só a vê como cozinheira forçam-na a falar ao léu para evitar a mudez total.
O outro antídoto ao silêncio é a amiga Jane, que, ao presentear Shirley com uma viagem à Grécia, aponta uma alternativa a seu cotidiano modorrento.
"A Shirley poderia ser um homem", diz a atriz, quando perguntada sobre o possível anacronismo, nos anos 2000, de um texto que trata de submissão e libertação feminina. "O que a peça realmente mostra é que a gente tem muita vida e não usa, se acomoda na solidão, na falta de tempo para os outros. E isso é unissex. Por isso, a personagem é uma porta-voz do mundo de hoje."
A narrativa circular -Shirley começa e termina a peça esperando pelo marido, em contextos diferentes- pode sugerir que a protagonista não se desvencilhou de todo do passado infeliz. A atriz discorda: "Ali, no fim, o que ela irá oferecer a ele é uma nova vida, não necessariamente ao lado dela".

Personagem que dá sorte
"Shirley Valentine" costuma render bons frutos a suas atrizes. No fim dos anos 80, a inglesa Pauline Collins ganhou um Tony (o principal prêmio da Broadway) e foi indicada ao Oscar pelas encarnações da dona de casa no teatro e no cinema.
No Brasil, em 1991, a interpretação de Renata Sorrah também colheu elogios. Quando Shirley bateu à porta de Betty, pelas mãos de um produtor paulista, no começo de 2008, a atriz hesitou. "Já sou tão solitária. Queria sair de casa para contracenar com colegas, não para fazer um monólogo."
Mas aí veio uma leitura do texto aberta ao público, em setembro passado -e os comentários de que "já estava com a personagem". Era o empurrão que faltava. Sob a direção do amigo Guilherme Leme, ela então se pôs a tagarelar diariamente com as paredes sobre solidões, esquecimentos e idílios gregos. O primeiro voo de Betty Valentine parte nesta noite.


SHIRLEY VALENTINE

Quando: estreia hoje, para convidados; qui. a sáb., às 19h30; dom., às 18h; até 21/6
Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quanto: R$ 15
Classificação: não indicado a menores de 12 anos



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