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CINEMA/"DIABO A QUATRO"
Filha de Joaquim Pedro renova chanchada carioca
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Desde o título -que, conscientemente ou não, evoca
um clássico dos Irmãos Marx-,
"Diabo a Quatro" se apresenta
como uma comédia maluca, dessas que prezam mais o efeito cômico do absurdo do que a consistência dos personagens e da trama.
É nesse terreno, portanto, que o
longa-metragem de estréia de
Alice de Andrade (filha do grande Joaquim Pedro de Andrade)
deve ser apreciado. "Não se pode
pedir peras ao olmo", diz o provérbio espanhol. Ou, na versão
brasileira de Julio Bressane: "Pitangueira não dá cereja".
Mas vamos ao filme. "Diabo a
Quatro" coloca em movimento,
no caos urbano de Copacabana,
um punhado de personagens de
várias origens geográficas e sociais.
Tudo gravita em torno de Rita
(Maria Flor), jovem babá vinda
da Amazônia que acaba se transformando na prostituta Mistery
para seduzir o surfista Paulo Roberto (Marcelo Farias), fissurado
em garotas de programa.
Além do surfista, acabam se envolvendo com a garota personagens como o cafetão moderno
Tim Mais (Márcio Libar), dono
da agência de garotas Heaven
Promotions, e o menino de rua
Waldick (Netinho Alves), que
também veio do interior e sonha
em ser artista de TV.
A diretora parte de alguns estereótipos -o surfista apalermado
pela maconha, a provinciana inocente que se prostitui na metrópole, a perua (Marília Gabriela)
que transa com "delivery boys"
etc.- para logo deslocar seu sentido no meio da confusão mais
ou menos programada que é a
trama do filme.
Dito isso, a irregularidade de
"Diabo a Quatro", suas quebras
de ritmo, sua colagem de gêneros, sua dispersão narrativa, tudo
isso está, até certo ponto, de acordo com certa tradição da comédia descabelada (lembremos de
novo dos Irmãos Marx e das
chanchadas brasileiras).
Talvez por se tratar de um longa
de estréia, talvez por conta do
grande número de roteiristas
-nada menos que cinco-, há
uma espécie de sofreguidão em
colocar tudo na tela: todas as piadas, todos os personagens, todos
os temas (prostituição, tráfico de
drogas, desigualdade social, contraste campo/cidade).
O filme se constrói, assim, por
acumulação, em contraste, por
exemplo, com uma comédia como "Bendito Fruto", centrada na
precisão do tom e na concisão da
escrita. Com esta última, "Diabo a
Quatro", à sua maneira, contribui
para revigorar o humor brasileiro.
Diabo a Quatro
Direção: Alice de Andrade
Produção: Brasil, 2004
Com: Maria Flor, Marcelo Farias, Márcio
Libar, Netinho Alves
Onde: em cartaz nos cines Frei Caneca
Unibanco Arteplex 7 e Sala UOL de Cinema
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