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Crítica/"O Cavaleiro da Rosa"
Osesp faz versão memorável de ópera de Richard Strauss
Ovacionada pelo público, montagem contou com vozes de renomados solistas
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Até a ovação foi excepcional. Nem a soprano
Anne Schwanewilms
acreditava no que via e ouvia,
ao final da ópera "O Cavaleiro
da Rosa", domingo passado na
Sala São Paulo: 1.500 pessoas
de pé, gastando as palmas das
mãos, as cordas vocais, os assobios e o que mais fosse para extravasar a loucura depois do
terceiro ato. Com as mãos sobre os ouvidos, a alemã balançava a cabeça, aplaudida também pelos 20 outros solistas e o
regente Richard Armstrong.
Fazia 50 anos que a obra-prima de Richard Strauss (1864-1949) não era apresentada na
cidade. E, como ensina Sergio
Casoy, no sempre útil "Ópera
em São Paulo" (Edusp), antes
de 1959, só em 1915 -quatro
anos após a estreia da ópera.
Para quase todo mundo, então,
era a primeira chance de ouvir
ao vivo uma das partituras mais
espetaculares do século 20.
Foi uma versão de concerto,
mas com muitos toques de encenação, dirigida com discreta
vivacidade por André Heller-Lopes. Além de Schwanewilms
-que fará o mesmo papel da
Marechala ano que vem, na
ópera de Berlim-, a Osesp
trouxe o impagável baixo Franz
Hawlata -que fez recentemente "Os Mestres Cantores" no
Festival de Bayreuth. Um e outro são cantores-atores, capazes de inventar a vida num metro de palco, sem perder jamais
o grão da voz.
Tinham com eles a americana Kristine Jepson no papel
travestido do adolescente Octavian, amante da Marechala. O
físico não ajudava a verossimilhança; mas a voz e a simpatia
acabavam por enganar à gente,
quase tanto quanto ao próprio
Barão. (Que uma mulher faça o
papel de garoto, que por sua vez
se disfarça de mulher, é só uma
das piadas libertinas no libreto
mozartiano de Hoffmansthal.)
Se a noiva nessa tarde parecia menos feliz encarnada na
húngara Anna Korondi, seu pai
deu-se muito melhor, revivido
pelo carioca Rodrigo Esteves. O
vasto elenco dava-se ao luxo de
incluir Denise de Freitas, Marília Vargas, Marcos Thadeu e
Atalla Ayan, entre outros, mais
o Coro da Osesp e as crianças.
"Sir" Richard gostou visivelmente da orquestra; e a orquestra dele. São três horas de música, com requintes virtuosísticos; música para uma orquestra adulta e maliciosa, que a
Osesp sabe ser, quando regida
assim. O final, com a Marechala
pondo o Barão no seu lugar e
depois abdicando de Octavius,
é um dos momentos mais raros
da história da ópera. Quem ouviu, viu. Quem viver, reviverá,
como puder, nas comédias da
vida menor, fora do palco.
Avaliação: ótimo
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