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São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra no MAM, em sua 28ª edição, utiliza como temática a mania nacional de contornar situações

Panorama adota "jeitinho brasileiro"

Jorge Araujuo/ Folha Imagem
Artista Fernanda Gomes montra instação com nome nome do nome


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma foto de uma grande área de mineração, que na verdade mede poucos centímetros; uma obra que parece um trabalho construtivista dos anos 50, mas é um pedaço de uma boléia de caminhão; o leito de um rio em pleno banheiro feminino e azulejos com delicados desenhos que são ervas alucinógenas.
A mania nacional de contornar os limites -o "jeitinho brasileiro"- aparece como a temática do 28º Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), que é aberto hoje. Os exemplos acima são, na ordem, obras de Vik Muniz, Marcone Moreira, Fernanda Gomes e Adriana Varejão.
"Aprendi hoje essa expressão que "é dar um jeitinho". Creio que só existe no Brasil. O Panorama está cheio de truques, como a participação de artistas estrangeiros, um artista morto [Leonilson, 1957-93] e a questão das drogas", diz Gerardo Mosquera, curador da exposição.
O cubano Mosquera aprendeu o que é o jeitinho pois queria contornar um problema: o projeto do artista plástico José Guedes -ampliar a faixa de pedestres por todo um quarteirão da av. Paulista- não foi autorizado, ao menos até anteontem. A saída foi realizar a obra numa faixa de pedestres em frente ao MAM e registrar a intervenção.
Com seu "jeitinho", Mosquera subverteu o sentido do Panorama, com a panamenha Adrienne Samos, curadora assistente. Em vez de uma mostra com os artistas emergentes do país, ele trouxe 19 artistas, em sua maioria já renomados, como Cildo Meireles e Ernesto Neto, acrescentou três estrangeiros, e deu o tema "Desarranjo", a seu ver uma forte característica da produção nacional. Com isso, a surpresa é o arranjo curatorial, que ocupa as duas salas da sede do museu e alguns espaços em outros museus.
Fora do MAM, cabe ao artista Paulo Climachauska provocar os desarranjos. Ele leva vidros com materiais de pintura que podem explodir, caso seja ateado fogo. Chamada de "Coquetel Molotov", a obra estará ao lado das telas "Independência ou Morte" (1888), de Pedro Américo, no Museu Paulista, e "Caipira Picando Fumo", de Almeida Júnior, na Pinacoteca do Estado. "Vamos ter alguns coquetéis molotov no Panorama como uma forma de autocrítica", diz Mosquera.
Falando em autocrítica, é indispensável citar a obra dos irmãos Adriano e Fernando Guimarães. Um colírio que dilata as pupilas estará à disposição dos visitantes, que poderão caminhar pela mostra vendo-a de outra maneira. Mosquera faz um merecido resgate ao trazer Humberto Costa Gomes, artista que teve destaque nos anos 60 e 70, e apresenta duas instalações, desdobramentos de ações no MAM carioca nos anos 70, num trabalho que propõe um diálogo entre arquitetura e elementos de uso cotidiano. O curador revela ainda Sara Ramos, artista que vive em Minas e traz vídeos com temática feminista. Dos estrangeiros, o destaque é o belga Wim Delvoye, que apresenta a série "Lipstick Prints". Aparentemente marcas de lábios em folhas de hotéis, a obra requer atenção do visitante para descobrir qual outra parte do corpo pode gerar figuras parecidas com um beijo.
Apesar da seleção dos artistas já consagrados ter ocorrido graças a uma ambição de levar para o exterior o MAM paulista, o curador cubano ainda não fechou itinerâncias internacionais. "Temos instituições interessadas, mas elas não têm como pagar a exposição." Ao menos no Brasil, a mostra terá visibilidade inédita. Depois de São Paulo, onde fica durante um mês e meio, ela segue para o Rio, Curitiba, Recife e espera a confirmação da Bahia.


PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
2003. Curadoria: Gerardo Mosquera e Adrienne Samos. Quando: abertura hoje, às 19h30; de ter. a sex. (12h/18h); qui., até 22h; sáb. e dom. (10h/18h). Até 30/ 11. Onde: Museu de Arte Moderna de São Paulo (parque Ibirapuera, portão 2 e 3, tel. 5549-9688). Quanto: R$ 5.


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