São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Índice

Artista expõe visão do caos urbano

Olhar contemporâneo de Cássio Vasconcellos fragmenta cidade em mostra que tem abertura hoje na galeria Vermelho

Obras como "São Paulo" e "Ponte" seccionam imagens da capital na busca de uma linguagem poética para recriar mosaico urbano

Divulgação
Segmentada em 38 tiras, a obra "São Paulo", de Cássio Vasconcellos, só pode ser vista na íntegra de um único ponto da galeria

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A percepção do homem contemporâneo diante do caos da paisagem urbana das grandes metrópoles é o mote dos dois novos trabalhos que o fotógrafo Cássio Vasconcellos apresenta a partir de hoje na galeria Vermelho, em São Paulo. Neste início de século 21, a experiência de circular em meio ao excesso de informação, da escala desumanizada da arquitetura e da aceleração contínua dos fluxos das metrópoles tem transformado drasticamente a relação do homem com o seu meio.
Entre a partida e a chegada ficamos encapsulados em veículos motores ou cerrados dentro de nós mesmos. No lugar da contemplação, o olhar no retrovisor. Contra a falta de tempo, o acelerador. A paisagem tende a se diluir, criando uma espécie de cegueira coletiva.
A cidade emerge como um mosaico ilógico de fragmentos. Essas questões dialogam diretamente com o áudio-visual "Fast-Slow Scapes", da artista Gisele Beiguelman, também em exibição.
Assim como já havia realizado com a obra "Uma Vista" (2002), atualmente em exposição na mostra "MAM na Oca", Vasconcellos supera a constatação desse estado das coisas para recriar, por meio de artífices poéticos, uma forma original de se embrenhar nesta selva errática formada por edifícios, esquadrias, placas, luzes, veículos, pessoas.
Na obra nova, "Ponte", segmentada em tiras e exposta em diferentes planos, vemos uma imagem da marginal Pinheiros, em São Paulo. Nela aparece um edifício contemporâneo, as ruínas de uma ponte abandonada e ao meio a ponte trafegável. Três tempos, três edificações que habitam o mesmo espaço sem nenhuma relação entre si.

Emaranhado
Na obra "São Paulo", Vasconcellos secciona uma imagem aérea da cidade em 38 tiras verticais de três metros cada. Dispostas como totens em três planos, a fotografia na íntegra só é percebida a partir de um único ponto. Fora deste a imagem fragmentada volta ser um emaranhado de linhas verticais que denotam o skyline das urbes.
De perto vê-se que os pixels que formam as imagens criam uma deformação da figura. A fotografia adquire uma textura própria como se fosse uma segunda pele da cidade. É preciso se distanciar e fechar um dos olhos para que a cidade reapareça. A restituição da capacidade de contemplar requer um esforço dos olhos embotados pela cegueira contemporânea.
A cidade ressurge como experiência estética e sensorial.


CÁSSIO VASCONCELLOS
Quando:
abertura hoje, às 20h; de ter. a sex., das 10 às 19h; sáb., das 11 às 17h; até 16/12
Onde: galeria Vermelho, r. (Minas Gerais, 350, tel. 3257-2033
Quanto: entrada franca


Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.