UOL


São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Acompanhado por seu trio, o pianista Nelson Ayres recebe o saxofonista Roberto Sion hoje no teatro Cultura Artística

Encontro de maestros une jazz e MPB

EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

A falta de boas escolas de música popular no Brasil do final dos anos 60 apurou a técnica e aproximou os dois protagonistas do encontro que, hoje à noite, encerra a série de jazz que o teatro Cultura Artística levou ao seu palco no segundo semestre deste ano.
São eles o pianista Nelson Ayres, 56, e o saxofonista Roberto Sion, 57, que formaram, ao lado de Victor Assis Brasil (1945-81), a primeira flotilha de músicos que foram a Boston em busca de conhecimento na escola Berklee.
"Fui para lá em 69. Já tocava e escrevia arranjos, mas era tudo meio esburacado. Aquele lugar é uma maquininha em que você entra como um jovem talentoso de um lado e sai um músico completo do outro", define Ayres.
"Apesar disso, há críticos. Para eles, a escola uniformiza o aprendizado, que deveria ter a ver com a tradição oral. É claro que a Berklee não forma mil Charlie Parkers por ano, mas sai muita gente competente de lá", completa Sion.
Quase 35 anos depois da ida a Boston, os hoje instrumentistas, maestros, arranjadores, regentes e professores não deixam de aplicar o que aprenderam no nordeste dos EUA. Pelo menos é o que diz Sion: "É o método que uso com os meus alunos".
Fora das salas de aula, Ayres e Sion se conheceram em 1968. O primeiro liderava a banda jazzística São Paulo Dixieland Band -com a qual gravou seu primeiro disco- e levava o seu piano para passear por veredas bossa-novistas com frequência.
Já fora do anonimato -pelo menos entre os praticantes e ouvintes de música instrumental-, Ayres ouviu um zunzunzum a respeito de um saxofonista de Santos que era tido como muito bom.
"Peguei meu Fusca, desci a serra, assisti a um show do Sion e voltei maravilhado para São Paulo", lembra o pianista.
Maravilhado e tímido, pois não procurou o saxofonista logo depois da apresentação. Eles trocaram o primeiro aperto de mãos meses depois, quando Sion passou a subir a serra para estudar e fuçar o meio musical paulistano.
"No Rio, tinha a casa da Nara Leão. Aqui, a gente se encontrava em festinhas. E todos os finais de semana aconteciam shows", lembra Ayres.
Mesmo com esses primeiros contatos, as várias ocasiões em que dividiram palcos e estúdios e os anos de Berklee, os dois só iriam estreitar seus laços musicais de uma maneira mais sólida a partir de 1978, quando formaram o grupo de música instrumental Pau Brasil.
Ayres relembra o começo e as intenções: "A banda nasceu numa casa chamada Lei Seca, onde a gente se apresentava todas as quintas-feiras. Procurávamos nos alimentar de todas as influências possíveis, daqui e de fora, mas nós regurgitávamos apenas música brasileira".
A única vez em que os nomes dos dois estiveram juntos no alto da capa de um disco aconteceu em meados dos anos 80.
"Gravamos pela Eldorado um LP chamado "E a Música de", em que tocamos composições de Tom Jobim, Chico Buarque e Flávio Venturini", conta Sion. Segundo ele, o trabalho pode ser relançado no ano que vem.
No show de hoje, os músicos se encontram para, escoltados pelo trio que acompanha Ayres nos últimos anos -e com o qual acabou de lançar o CD "Perto do Coração"-, revisitar as intersecções na trajetória musical dos dois.
No repertório estão previstas "St. Louis Blues", de W.C. Handy, "Insensatez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e "Conversa de Botequim", de Vadico e Noel Rosa. Além disso, eles planejam mostrar criações próprias como "Suíte para um Jazzman" (em que Sion homenageia Assis Brasil) e "Cedo de Manhã", de Ayres.


NELSON AYRES E ROBERTO SION.
Quando: hoje, às 21h. Onde: teatro Cultura Artística, (r. Nestor Pestana, 196, Consolação, tel. 3258-3344). Quanto: R$ 20.



Próximo Texto: Panorâmica - Política cultural: Produtores paulistas discutem Lei Mendonça
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.