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MÚSICA
Acompanhado por seu trio, o pianista Nelson Ayres recebe o saxofonista Roberto Sion hoje no teatro Cultura Artística
Encontro de maestros une jazz e MPB
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
A falta de boas escolas de música popular no Brasil do final dos
anos 60 apurou a técnica e aproximou os dois protagonistas do encontro que, hoje à noite, encerra a
série de jazz que o teatro Cultura
Artística levou ao seu palco no segundo semestre deste ano.
São eles o pianista Nelson Ayres, 56, e o saxofonista Roberto
Sion, 57, que formaram, ao lado
de Victor Assis Brasil (1945-81), a
primeira flotilha de músicos que
foram a Boston em busca de conhecimento na escola Berklee.
"Fui para lá em 69. Já tocava e
escrevia arranjos, mas era tudo
meio esburacado. Aquele lugar é
uma maquininha em que você
entra como um jovem talentoso
de um lado e sai um músico completo do outro", define Ayres.
"Apesar disso, há críticos. Para
eles, a escola uniformiza o aprendizado, que deveria ter a ver com
a tradição oral. É claro que a Berklee não forma mil Charlie Parkers por ano, mas sai muita gente
competente de lá", completa Sion.
Quase 35 anos depois da ida a
Boston, os hoje instrumentistas,
maestros, arranjadores, regentes
e professores não deixam de aplicar o que aprenderam no nordeste dos EUA. Pelo menos é o que
diz Sion: "É o método que uso
com os meus alunos".
Fora das salas de aula, Ayres e
Sion se conheceram em 1968. O
primeiro liderava a banda jazzística São Paulo Dixieland Band
-com a qual gravou seu primeiro disco- e levava o seu piano
para passear por veredas bossa-novistas com frequência.
Já fora do anonimato -pelo
menos entre os praticantes e ouvintes de música instrumental-,
Ayres ouviu um zunzunzum a
respeito de um saxofonista de
Santos que era tido como muito
bom.
"Peguei meu Fusca, desci a serra, assisti a um show do Sion e voltei maravilhado para São Paulo",
lembra o pianista.
Maravilhado e tímido, pois não
procurou o saxofonista logo depois da apresentação. Eles trocaram o primeiro aperto de mãos
meses depois, quando Sion passou a subir a serra para estudar e
fuçar o meio musical paulistano.
"No Rio, tinha a casa da Nara
Leão. Aqui, a gente se encontrava
em festinhas. E todos os finais de
semana aconteciam shows", lembra Ayres.
Mesmo com esses primeiros
contatos, as várias ocasiões em
que dividiram palcos e estúdios e
os anos de Berklee, os dois só
iriam estreitar seus laços musicais
de uma maneira mais sólida a
partir de 1978, quando formaram
o grupo de música instrumental
Pau Brasil.
Ayres relembra o começo e as
intenções: "A banda nasceu numa
casa chamada Lei Seca, onde a
gente se apresentava todas as
quintas-feiras. Procurávamos nos
alimentar de todas as influências
possíveis, daqui e de fora, mas nós
regurgitávamos apenas música
brasileira".
A única vez em que os nomes
dos dois estiveram juntos no alto
da capa de um disco aconteceu
em meados dos anos 80.
"Gravamos pela Eldorado um
LP chamado "E a Música de", em
que tocamos composições de
Tom Jobim, Chico Buarque e Flávio Venturini", conta Sion. Segundo ele, o trabalho pode ser relançado no ano que vem.
No show de hoje, os músicos se
encontram para, escoltados pelo
trio que acompanha Ayres nos últimos anos -e com o qual acabou de lançar o CD "Perto do Coração"-, revisitar as intersecções
na trajetória musical dos dois.
No repertório estão previstas
"St. Louis Blues", de W.C. Handy,
"Insensatez", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e "Conversa de
Botequim", de Vadico e Noel Rosa. Além disso, eles planejam
mostrar criações próprias como
"Suíte para um Jazzman" (em que
Sion homenageia Assis Brasil) e
"Cedo de Manhã", de Ayres.
NELSON AYRES E ROBERTO SION.
Quando: hoje, às 21h. Onde: teatro
Cultura Artística, (r. Nestor Pestana, 196,
Consolação, tel. 3258-3344). Quanto: R$
20.
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