Passando por nomes de Nelson Freire a John Neschling, obra faz apanhado crítico abrangente dos músicos do país

Quase 50 artistas de diferentes gerações e com diferentes estéticas estão contemplados no livro de Sidney Molina

Ormuzd Alves/Folha Imagem

O violoncelista pernambucano Antonio Meneses, que está no livro sobre música clássica do país

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

São 35 intérpretes e 14 compositores, incluindo apreciação crítica, resumo biográfico, data e local de nascimento e uma discografia selecionada: Sidney Molina tenta fazer um apanhado de nossa produção atual em "Folha Explica Música Clássica Brasileira Hoje".
Sim, ele diz música clássica, e não música erudita. Afinal, "na maior parte do mundo ela se reconhece como classical music, Klassische Musik, musique classique ou música clássica", escreve, na introdução do livro.
Molina fundou, em 1992, o Quarteto de Violões Quaternaglia e, paralelamente à carreira de instrumentista e professor universitário, vem atuando também como crítico de música da Folha em substituição a Arthur Nestrovski, que se tornou diretor artístico da Osesp. Seu débito para com Nestrovski é evidente, e reconhecido logo na introdução do livro. O antigo editor da Publifolha é citado em vários artigos, e o próprio estilo de Molina parece ecoar o de Nestrovski em diversas oportunidades.
Difícil não se lembrar, aqui, de "Folha Explica Música Popular Brasileira Hoje", em que 99 diferentes autores escreviam sobre artistas atuais. A estrutura dos artigos é similar, mas, dessa vez, o texto tem um só dono, que se ocupa do que chama de "outra música" do Brasil -que está ausente do debate cultural do país, se comparada com a força e a representatividade da música popular.
Sem negar nem rejeitar a qualidade e a inserção cultural da MPB, Molina se dispõe a mapear nosso cenário clássico atual. O número de artigos é reconhecidamente arbitrário; o autor diz que, na seleção, buscou "transcender, na medida do possível, posições e gostos pessoais: o objetivo foi elencar figuras que representam em alto nível as várias áreas da música clássica feita hoje no Brasil e por brasileiros no exterior".
Estão lá, então, o piano de Nelson Freire, o violoncelo de Antonio Meneses, a batuta de John Neschling, o violão de Fabio Zanon, a voz de Eliane Coelho e grupos como o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e o Quinteto Villa-Lobos.
Para ampliar o alcance da obra, Molina traz para vários artigos nomes importantes que não receberam textos específicos, como os regentes Roberto Tibiriçá e Jamil Maluf.
Na composição, Molina busca ser abrangente tanto em termos estéticos quanto etários. Aborda, assim, de Felipe Lara, 31, a Gilberto Mendes, 87, passando por Ronaldo Miranda, 61, André Mehmari, 32, e Egberto Gismonti, 63. Nomes que defende com carinho, procurando incutir no leitor a vontade de ouvir e conhecer uma música que não quer ficar eternamente sendo conhecida como "a outra".