São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2007

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Crítica/artes plásticas

Boa mostra de Leonilson poderia ser mais ampla

Exposição na Pinacoteca é baseada em desenhos para coluna de Barbara Gancia

Danilo Verpa/Folha Imagem
Montagem da exposição "Léo, 50" na Estação Pinacoteca, que comemora os 50 anos de nascimento de Leonilson (1957-1993)


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Léo, 50" é uma exposição bastante modesta diante da importância que o artista José Leonilson (1957-1993) vem alcançando, tanto no Brasil como no exterior -ainda mais em se tratando de uma mostra que comemora os 50 anos de seu nascimento.
Além de ser uma referência constante para novas gerações de artistas, institucionalmente sua importância vem crescendo: ele é um dos nomes que farão parte da próxima Bienal de Veneza, a ser inaugurada no mês de junho, e suas obras foram adquiridas por instituições como o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, o Museu Nacional de Arte Moderna, no Centro Pompidou, em Paris, e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, por meio de doação.
Surgido em meio à chamada Geração 80, Leonilson se destacou não só pelos experimentos formais na pintura, como o uso da tela sem chassi, que marcaria essa geração, mas também pela alta carga poética de sua pesquisa, que partia de questões biográficas, especialmente de sua homossexualidade e da busca do amor, sem, no entanto, tornar-se militante.
Isso, graças à fórmula que norteava o artista, na forma como criava seus trabalhos: "São todos ambíguos e não entregam uma verdade diretamente, mas uma visão aberta", afirmava.
Entretanto, se a mostra é modesta em relação ao conjunto de sua obra -há poucas pinturas-, sua qualidade é aprofundar-se sobre parte também importante de sua produção, o desenho, a partir de 96, com 105 ilustrações feitas para a coluna "Talk of the Town", de Barbara Gancia, na Folha, realizadas entre 1991 e 1993.
Polemista, Gancia é uma importante cronista de seu tempo, e Leonilson conseguiu com suas ilustrações estabelecer um forte vínculo com a colunista, sem tornar-se óbvio. Seus desenhos não eram mera ilustração do texto.
Nesse sentido, a exposição ganha vigor ao apresentar o conjunto desses desenhos em meio ao universo do próprio artista, com objetos pessoais, estudos, projetos, fotografias e mesmo uma escultura de sua amiga Isa Pini, apontando que as ilustrações podem ser inseridas como parte importante de sua pesquisa e de seu mundo particular.
Para tanto, o curador Ivo Mesquita elegeu quatro eixos simbólicos, que se enquadram tanto nas ilustrações como no próprio conjunto de sua obra: o vulcão, o globo terrestre, o pódio e a torre.
Em todos esses eixos, a palavra é uma constante, outra das marcas importantes de Leonilson, seja nas pinturas, seja nos desenhos. Para a coluna de 8 de janeiro de 1992, por exemplo, intitulada "Ano zero km sai por preço de banana", o artista desenhou uma escada com a frase "ano q. vem" escrita no topo e, em sua base, "honestidade não dói/dignidade não fere/namorar faz bem". Aí, verifica-se bem a transição entre questões políticas e ao mesmo tempo pessoais que caracteriza sua poética.

LÉO, 50
Quando:
ter. a dom., das 10h às 18h; até 20/7
Onde: Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, tel. 3337-0185)
Quanto: R$ 4; grátis aos sábados
Avaliação: bom


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