|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"HITCHCOCK, SELZNICK E O FIM DE HOLLYWOOD"
Aula da história do cinema americano
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O que acontece quando um cineasta criador, que antes de começar a rodar já tem seu filme inteiro
na cabeça, vai trabalhar com o
mais megalômano e centralizador
produtor de Hollywood?
Esse complexo embate entre o
"cinema de autor" e o "cinema de
produtor", propiciado em 1939 pela associação entre Alfred Hitchcock (1899-1980) e David O. Selznick (1902-65), é o tema do fascinante documentário "Hitchcock,
Selznick e o Fim de Hollywood",
de Michael Epstein, que antes fez
"The Battle over Citizen Kane".
A estrutura do filme não difere
muito dos documentários televisivos sobre personalidades do cinema: narração em "off" (por Gene
Hackman) e uma alternância cadenciada de depoimentos, "home
movies", imagens documentais e
trechos dos filmes comentados.
O que faz de "Hitchcock, Selznick e o Fim de Hollywood" um filme obrigatório é, além da grande
riqueza do material raro exibido, o
caráter revelador do próprio encontro entre esses dois gigantes do
cinema.
Se, em vez de Hitchcock e Selznick, os personagens escolhidos
fossem, por exemplo, Erich von
Stroheim e Irving Thalberg, a leitura do tema seria muito diferente
-e certamente mais amarga.
Relação ambígua
Pois, se Stroheim chocou-se de
frente com o sistema dos estúdios e
foi destruído por ele, a relação de
Hitchcock com a indústria foi sempre muito mais ambígua e, no fim
das contas, mais frutífera.
Não por acaso, uma das personalidades que mais falam no documentário é o pesquisador Thomas
Schatz, autor do livro "O Gênio do
Sistema", que procura mostrar
que os filmes da chamada "era dos
estúdios" eram produtos industriais em que pouco pesava a personalidade artística do diretor.
Nesse contexto, Hitchcock é um
caso raro de diretor que conquistou progressivamente sua autonomia, tornando-se, afinal, produtor
de seus próprios filmes.
Concessões
Mas não foi sempre assim. E o
documentário de Epstein mostra
com riqueza de detalhes as concessões que Hitchcock teve de fazer a
Selznick nos três filmes que realizaram juntos: "Rebecca" (1940),
"Quando Fala o Coração" (1945) e
"Agonia de Amor" (1947).
Afinal, em 1939, quando chegou
à América, Hitchcock era apenas
um diretor europeu de prestígio,
enquanto Selznick era o homem
que acabara de produzir o maior
êxito do cinema mundial, "E o
Vento Levou" -obra muito mais
sua do que dos três realizadores
que se sucederam na direção.
Choque
A história contada pelo documentário é também a do choque
entre duas personalidades opostas: enquanto Selznick era perdulário, expansivo, sensual e viciado
em jogo, Hitchcock vinha de uma
rígida formação católica, era tímido e pouco menos que travado em
matéria de sexo e dinheiro.
No documentário de Epstein,
Selznick surge como o verdadeiro
personagem trágico, que passou a
vida inteira tentando em vão superar o sucesso obtido aos 37 anos de
idade, com "E o Vento Levou".
Com imagens preciosas (como as
de Hitchcock fazendo um delicioso teste de voz com a atriz de
"Blackmail") e depoimentos de
gente que conviveu com os dois
personagens, o filme de Epstein
vale por uma aula de história do cinema americano.
Avaliação:
Filme: Hitchcock, Selznick e o Fim de
Hollywood
Direção: Michael Epstein
Quando: hoje, às 23h
Onde: Estação Vitrine
Texto Anterior: Construção de um mito? Próximo Texto: Livro: Leminski tem homenagem hoje em SP Índice
|