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São Paulo, sábado, 17 de maio de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Artista mineira transforma galeria em loja de roupas e questiona comportamentos do espectador

Laura Lima costura relações sociais com "obras para vestir"

Divulgação
Peça criada por Laura Lima para a exposição "Costumes Loja", inaugurada hoje na Casa Triângulo


JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Construir casas, produzir utensílios, trabalhar, cozinhar, vestir roupas são hábitos herdados socialmente. Qualquer comunidade, antiga ou moderna, pode ser definida por esse conjunto de tradições e seus usos. Laura Lima vira os costumes do avesso na exposição que é inaugurada hoje na Casa Triângulo.
Trata-se de um conjunto de vestimentas nada usual: feitas de vinil azul-piscina e concebidas para, por exemplo, tapar o rosto, dificultar o andar ou arrastar-se como um longo rabo, são apresentadas como em uma loja, com mostruário, provadores e vendedor.
Intitulada "Costumes Loja", a exposição possui evidente carga crítica ao transformar uma galeria de arte em loja de roupas. "Na hora de expor obras, qualquer galeria tem um caráter de venda; o que eu fiz foi incorporar o hábito do lugar ao trabalho", explica a artista mineira radicada no RJ.
As peças funcionam como metáfora não apenas do funcionamento mercantilista da sociedade, mas das estruturas e comportamentos viciados que vigoram no mundo das artes: a relação entre espectador e obra, os procedimentos esperados de cada um dos personagens desse sistema.
Laura Lima abordou esse condicionamento em uma obra feita para a terceira edição do evento independente "Orlândia", no Rio. Não orquestrou nenhuma ação, como era comum em seus trabalhos performáticos envolvendo homem-carne e mulher-carne (apresentados na 24ª Bienal de SP, em 98, por exemplo), para evidenciar o comportamento do público em visita a uma exposição.
Todos os visitantes que cumprimentavam os conhecidos, bebiam seus drinques, aproximavam-se e afastavam-se dos trabalhos expostos para melhor apreciá-los etc. integravam automaticamente sua coreografia.
Em relação aos "Costumes", a artista recusa associações com os parangolés de Hélio Oiticica e mesmo com as vestimentas do RhR (pronuncia-se "ran"), "grupo performático" do qual faz parte, surgido em 1999 e que utiliza estranhas roupas confeccionadas pelos integrantes. "Estou mais interessada nos intrincamentos das relações sociais, no comportamento de troca que se realiza o tempo todo, do que nas alterações de percepção do cotidiano", diz.
O viés performático da ação de vestir os "Costumes" (o visitante pode experimentar) não a interessa: "Estou consciente de que ao trazer essas peças para o espaço da arte esse elemento de performance será incorporado. Só que, na verdade, esses ornamentos estão aqui para ir para a vida".

COSTUMES LOJA. Onde: galeria Casa Triângulo (r. Bento Freitas, 33, tel. 3331-5910). Quando: abertura hoje, das 12h às 18h; de ter. a sáb., das 11h às 19h; até 5/6. Quanto: entrada franca.


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