São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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Cinema é popular, nasceu no circo, afirma Caetano

Mostra de filmes escolhidos pelo cantor começa amanhã; para ele, "pessoal do cinema novo" não era "propriamente gente de cinema"

Critério para seleção das obras foi biográfico; "é uma lista baseada na intensidade da minha experiência como espectador", diz Caetano

Rodrigo Paiva/Folha Imagem
Caetano Veloso apresenta sua seleção de filmes em São Paulo

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinema, disse Caetano Veloso, "pense-se, diga-se, escreva-se, faça-se o que quiser", jamais deixará de ser "uma arte de entretenimento popular".
"Isso nunca está fora. Até o que é super-não-isso tem isso negadamente ali, gritando o tempo todo. Valorizando o não ser isso. Não sai. É impossível, está no DNA. Começou como atração de circo."
Assim o compositor apresentou, anteontem à noite, no Espaço Unibanco de Cinema, em São Paulo, uma das idéias que ajudariam a entender sua escolha de 20 filmes para a mostra "Carta Branca", organizada pelo próprio espaço e pela Folha.
Em seguida à sua conversa com o editor da Ilustrada, Marcos Augusto Gonçalves, foi projetado "As Grandes Manobras", de René Clair. Amanhã, na abertura do ciclo, o filme volta a ser apresentado, às 20h. Antes, às 18h, passará "Terra em Transe", de Glauber Rocha.
A mostra vai até 24 de maio, no Espaço Unibanco de Cinema (r. Augusta, 1475). As sessões são gratuitas, com retirada de ingressos no local, e contam com o apoio da Rain Network, Cinemateca Brasileira e Cinemateca do Consulado Geral da França.
A cada semestre, a Folha convidará uma personalidade para escolher um conjunto de filmes que será projetado num ciclo. "Quando me vi com o problema da escolha dos filmes, decidi não seguir um critério crítico, mas sim autobiográfico", disse Caetano. Esses filmes, ele disse, "são minha vida no cinema". "É sobretudo uma lista baseada na intensidade da minha experiência como espectador."
Muitas das obras, da década de 50, foram vistas pelo compositor ainda no Recôncavo baiano. "Quando eu era menino, gostava de fingir que Santo Amaro era um filme. Eu andava de bicicleta e ia assoviando temas inventados como se fossem trilhas para aquelas imagens que eu estava vendo: um muro, pessoas andando, pedaço do cais."
Entre os filmes escolhidos pelo compositor, está "Noites de Cabíria" (1957), de Federico Fellini. Ele também lembrou da época em que, jovem, em Salvador, participava de sessões dominicais de "cinema de arte". "Sistematicamente não dormia aos sábados. Ficava bebendo cerveja até de manhã, e, às 10h, ia ver o filme."
Caetano fez a defesa do cinema como entretenimento popular quando falava sobre algumas obras contemporâneas do cinema novo, como "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla (que está na mostra), e "Todas as Mulheres do Mundo", de Domingos de Oliveira (que não está).
Para ele, "O Bandido", como "Todas as Mulheres", tem "essa bossa" de ser "um filme de cinema", algo que não necessariamente acontecia com outras obras do período. "O pessoal do cinema novo sempre me deu a impressão de que não era propriamente uma gente de cinema", disse. Isso porque seus problemas eram mais amplos e, em grande medida, "extra-cinematográficos". "Eles queriam libertar o cinema por meio do Brasil e libertar o Brasil por meio do cinema."


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