DA REPORTAGEM LOCAL

O mito católico de santa Luzia de Siracusa, na Itália do século 4, vem acudir o novo projeto do Núcleo Experimental do Sesi, que estréia hoje. "Menos sobre o martírio, mais sobre o desapego que falta no mundo contemporâneo", diz a diretora Georgette Fadel, 30, da cia. São Jorge de Variedades, convidada a assinar a peça "Santa Luzia Passou por Aqui com Seu Cavalinho Comendo Capim".
O título reverencia o dístico religioso repetido três vezes para curar problemas de visão, por exemplo, como reza a crença popular. Santa Luzia teria distribuído seus dotes aos mendigos, agradecida pelo milagre que curou sua mãe, mas foi repreendida por perseguidores dos cristãos e arrancou os próprios olhos diante daqueles que só enxergavam beleza, e não sua vocação espiritual.
No trabalho com oito atores do Núcleo Experimental, Fadel colocou em prática o processo colaborativo desenvolvido em sua companhia. Os dramaturgos Newton Moreno ("Agreste") e Antônio Rogério Toscano ("Sacromaquia") escreveram a partir do material proporcionado pela pesquisa do elenco nos ensaios.
O ponto de partida foi o trauma da separação, da despedida, do adeus. No entanto, o processo cristalizou-se no desapego, no quanto essa ruptura, não importa em qual plano, pode significar transformação. "Logo, o pessimismo passou ao otimismo", afirma Fadel.
Assim, santa Luzia, considerada a protetora dos olhos e da visão, guia os artistas-criadores, como Fadel define os parceiros, nos caminhos da perda, da escuridão e da iluminação.
São quadros, movimentos cênicos que duram em média três minutos e dizem respeito à subjetividade dos temas. Foram cinco meses de criação. "O Sesi deu carta branca", diz a diretora, que teve recursos para somar a direção de movimento de Lu Favoreto, a preparação corporal de Tica Lemos, a direção musical de Lincoln Antonio, a preparação vocal de Sandra Ximenez, os figurinos de Claudia Schapira (Núcleo Bartolomeu de Depoimentos) e a cenografia de Julio Dojcsar.
Essa é a quarta montagem do Núcleo do Sesi, coordenado por Isabel Setti (a última foi "O Nome", de Jon Fosse, dirigida por Denise Weinberg). (VS)