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Crítica/"O Pelicano"
Montagem evidencia limitações do texto
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Se até os grandes dramaturgos têm obras menores, sempre é possível
descobrir nelas brilhos ocultos.
Não é o caso da montagem de
Denise Weinberg de "O Pelicano", a última das quatro "peças
de câmara" que August Strindberg escreveu em 1907 para integrarem o repertório de seu
Teatro Íntimo, em Estocolmo.
O espetáculo não revela as pérolas insuspeitas do texto e,
pior, evidencia suas limitações.
As referidas peças se inspiram na música de câmara, tendo em comum uma abordagem
meticulosa das relações íntimas em que o tema, ou motivo,
se impõe sobre a estrutura da
obra. A mais famosa delas, "Sonata dos Espíritos", reflete particularmente essa fase em que o
gênio sueco está preocupado
com a questão da vida após a
morte. Suas leituras do período
incluem o "Fédon" de Platão,
diálogo sobre a imortalidade da
alma, e a filosofia mística de
Swedenborg, que prevê uma
existência concreta para as almas dos mortos.
"O Pelicano" marca certo recuo de Strindberg ao naturalismo e à forma dramática mais
tradicional que ele explorava
desde suas primeiras peças,
quase vinte anos antes. Em vez
do tom já explicitamente expressionista da "Sonata dos Espíritos", em que alguns personagens são verdadeiros fantasmas convivendo entre seres vivos, aqui os personagens estão
todos vivos. Mesmo assim, o pai
da família, recém-falecido, reaparece metaforicamente nos
movimentos estranhos, indicados pelas rubricas de objetos
como uma cadeira de balanço
na sala onde transcorre a ação.
A encenação de Weinberg se
esforça para resolver as demandas do texto e chega a encontrar soluções interessantes para dar conta de seus aspectos
mais obscuros. Assim, ventiladores instalados nas coxias
provocam um sopro gelado
que, às vezes, percorre o palco e
sugere forças do além. Mas porque a peça está ainda próxima
do puro drama e fundada essencialmente nos diálogos, depende para se efetivar muito
mais dos intérpretes do que de
qualquer efeito cênico.
No conjunto, o desempenho
dos atores e atrizes não alcança
o grau de verossimilhança que
o drama naturalista necessita
para cumprir seus propósitos.
As identidades são delineadas,
mas, presas da hesitação do autor entre caracterizá-las pelos
traços mundanos ou contaminá-las de espiritualidade, não
se mostram convincentes.
Uma opção seria reconhecer
na peça essas pulsões simbolistas que forçam a forma dramática e prenunciam sua explosão. Isso implicaria não explorá-las apenas como ilustração e
transcender a fábula, numa cena emancipada de suas amarras que, de algum modo, reinventasse Strindberg.
O mérito
de montar um dos textos menos conhecidos desse grande
dramaturgo foi superado pela
dificuldade de fazê-lo de um
modo relevante.
O PELICANO
Quando: quarta e quinta, às 21h;
até 24/9
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui
Barbosa, 153; tel. 3288-0136)
Quanto: de R$ 10 a R$ 20
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim
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