São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004 |
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CINEMA Mostra no CCSP dedicada ao cineasta sueco tem início com "Mônica e o Desejo", que sintetiza todas as facetas do diretor Bergman reaparece coloquial e por inteiro
INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA Existe um Bergman voltado para a vida e um para a morte, um para o encantamento e outro para o desencanto, um para a fé e outro para a dor. Todos eles se encontram em "Mônica e o Desejo", um dos filmes que abrem a retrospectiva dedicada ao diretor sueco no Centro Cultural São Paulo, hoje. A mostra traz alguns filmes de circulação ampla pertencentes às várias fases de Bergman: "O Sétimo Selo", "Morangos Silvestres", "A Hora do Lobo", "Gritos e Sussurros", "Cenas de um Casamento" e mais todos aqueles que a gente imagina. Entre os filmes pouco vistos, talvez o menos freqüente seja "O Olho do Diabo". "Mônica e o Desejo", de 1953, não existe em vídeo ou DVD, mas passava há algum tempo no Eurochannel, com o nome mais exato de "Monika e o Desejo". É um dos filmes mais coloquiais de Bergman, em que ele não aborda ostensivamente questões freqüentes em seu cinema (envelhecimento, morte, Deus ou sua inexistência, degeneração). Ao mesmo tempo, tudo isso está ali, no encontro entre o entregador Harry e a vendedora Monika. Um parêntese para Monika. Ela é Harriet Anderson, talvez a mais sedutora das atrizes de Ingmar Bergman. Diz ele que toda a equipe se apaixonou loucamente pela gordinha Harriet durante as filmagens. O fato é que Monika e Harry deixam seus empregos e partem para uma ilha onde vivem sozinhos durante algum tempo. O fantástico nisso é que Bergman consegue nos levar ao paraíso, isto é, àquela cena em que Adão e Eva viveram o amor em toda a sua originalidade. Ao contrário de Adão e Eva, que precisaram da interferência de Deus para deixar o paraíso, Harry e Monika bastam-se a si mesmos. Ou talvez Deus, na visão de Bergman, nos tenha abandonado a todos já faz uma pá de tempo, e nossos atos sejam decorrência desse abandono. O certo é que não somos muito capacitados para a felicidade, e o amor de Harry e Monika de certo modo está lá para comprovar isso. O interessante nisso tudo é que "Mônica e o Desejo" já contém, de maneira precoce, todo o movimento do pensamento bergmaniano, da fé ao desencanto, sem necessidade de recorrer às profundezas metafísicas meio capengas de, por exemplo, "O Sétimo Selo" -que por sinal também passa hoje. LANTERNA MÁGICA - RETROSPECTIVA INGMAR BERGMAN. Onde: CCSP - sala Lima Barreto (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611). Quando: de hoje a domingo. Quanto: entrada franca. Próximo Texto: Mostra exibe várias faces de bandidos Índice |
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