São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2010

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Em espaço intimista, peça dá voz a Clarice

"O Ovo e a Galinha" ganha interpretação e direção de alunas de Antunes Filho

Conto parte de um ovo para tecer descrição metafísica; encenação transfere narração para mulher em estado zen após insônia


Leticia Moreira/Folha Imagem
A atriz Angélica di Paula em peça dirigida por Vanessa Bruno

GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é comum, mas vez ou outra acontece. Um aluno -ou um grupo de alunos- do CPT do diretor Antunes Filho se desgarra para apresentar sua própria criação. É o caso das atrizes Angélica di Paula e Vanessa Bruno, que investem no conto "O Ovo e a Galinha", de Clarice Lispector, numa encenação intimista no terceiro andar do Sesc Consolação que estreia hoje.
O projeto foi idealizado por Angélica (de "Senhora dos Afogados" e "A Pedra do Reino"), que já não está mais no CPT. É ela quem interpreta o texto em cena, sob direção de Vanessa (de "A Pedra do Reino"), para uma plateia de 50 pessoas. Exemplar inequívoco das divagações metafísicas de Clarice, o conto é levado à cena sem grandes alterações. O ovo é o ponto de partida para uma viagem que transpassa a existência da personagem que o observa em uma cozinha.
Como um ponto de fuga que se estende ao infinito, atravessa a história da humanidade, representada em breves citações às civilizações etrusca ou macedônica, por exemplo. E "de ovo a ovo", tecendo uma tentativa de compreensão sobre todo o universo, "chega-se a Deus" -para citar um trecho presente no próprio conto.
O perfil do narrador, no texto original, é desconhecido. Possivelmente não se trata de um personagem, mas da voz da própria autora -e a única intervenção das duas atrizes recai justamente sobre este ponto. Para levar o texto ao palco, era preciso criar um sujeito por trás do monólogo: uma mulher que atinge uma espécie de estado zen e iluminado após uma noite de insônia, já à beira do amanhecer.
Com iluminação de Lenise Pinheiro, fotógrafa da Folha, e cenário minimalista da artista plástica Maria Fernanda Filardi, em que apenas o fio de uma luminária emoldura o espaço cênico de 2 m x 3 m, a peça busca dilatar a relação movimento-tempo-espaço. A investigação chega a uma partitura gestual que tangencia a dança. "A coreografia é sutil, às vezes apenas interna e não se revela em cena", diz Vanessa, que cria a expressão "casa-mente" para explicar a ambientação da obra de Clarice.


O OVO E A GALINHA

Quando: terça, às 21h; até 8/6
Onde: Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000)
Quanto: R$ 10
Classificação: 14 anos




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