UOL


São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

Texto Anterior | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Livro ilustra em 160 imagens a trajetória, desde os anos 50, do artista brasileiro radicado na França

Obra enquadra arquiteturas de Arthur Piza

LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Arthur Luiz Piza, 75, é um dos últimos exponentes das gerações de artistas brasileiros que buscaram Paris numa época em que a cidade era referência mundial para a arte.
Seguindo o caminho trilhado antes por Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Sérgio Camargo e Cícero Dias, Piza foi a Paris em 1951, após ter participado da 1ª Bienal de São Paulo. E lá permanece até hoje.
O contato com o Brasil nunca se perdeu. Apesar de ter passado 52 anos fora do país, Piza diz acompanhar a produção de arte brasileira e se considera parte dela, mesmo morando no exterior, e observa: "A arte não é uma questão de lugar, a gente carrega a arte com a gente".
O livro "Arthur Luiz Piza", que ilustra sua trajetória desde os anos 50 em 360 páginas, é prova disso. Elaborado pela Cosac & Naify, com um pé aqui e outro lá, a edição bilíngue português-francês contém textos de dois celebrados críticos franceses, Christine Frérot e Michel Nuridsany, morto recentemente. A cronologia é de Tiago Mesquita.

Gravura
Apesar da edição reunir 160 imagens de colagens e aquarelas, entre outras técnicas, o meio privilegiado de Piza é a gravura porque "significa incisão, romper com a superfície".
Através dos cortes, Piza descobre um outro espaço físico, não só no papel, mas também na tela e no metal. Do primeiro plano um novo espaço é lançado, indicado também pela presença constante de setas. Mesmo em suas obras mais intimistas nota-se um forte sentido espacial.
As setas e os volumes suspensos na superfície criam uma tensão. As sombras que se formam não são utilizadas aqui para reiterar o volume tridimensional, mas para materializar esta ação por meio da luz.
O livro sugere uma vida entre duas margens, seja entre dois países, seja entre dois movimentos de arte: o neoconcretismo brasileiro e o abstracionismo informal francês.

Paul Klee
Arthur Luiz Piza não utiliza a geometria como um ponto de chegada, mas como um ponto de partida. Isso o aproximaria de Paul Klee (1879-1940), que, já no início do século, criava elementos de arquiteturas imaginárias.
As formas talhadas lembram uma cidade que emerge. Essa interação de desdobramentos ganha uma vitalidade orgânica que, como as setas, indicariam a pluralidade de seu universo. "As setas vão para todos os cantos, como a internet: sabemos que estamos em todos os lugares. Não existe mais um único lugar onde as coisas estejam se passando", diz Piza.


ARTHUR LUIZ PIZA. Textos: Christine Frérot e Michel Nuridsany. Editora: Cosac & Naify. Quanto: R$ 129 (360 págs.).


Texto Anterior: Música eletrônica: Preferido de Madonna e mito da house, Vasquez toca hoje na Level
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.