São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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CINEMA

Espaço Unibanco e Sala Cinemateca exibem mostras com produção recente e premiada dos dois países europeus

Portugal e Alemanha driblam anonimato

PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Duas mostras tentam atualizar a carta de diretores alemães e portugueses pouco conhecidos em terras brasileiras. "Novíssimo Cinema Alemão", que começa hoje na Sala Cinemateca, exibe seis filmes produzidos entre 2001 e 2002.
A outra, "Novíssimos Cineastas Portugueses", que ocorre a partir de sexta no Espaço Unibanco de Cinema, traz cinco longas rodados a partir de 1999, acompanhados de quatro curtas de animação (veja quadro ao lado).
Menos uma coincidência, o termo "novíssimo" presente em ambas as mostras é justificado pelo desconhecimento dos brasileiros sobre duas cinematografias que ainda mantêm as caldeiras em bom funcionamento.
O cineasta e crítico Carlos Adriano, curador da versão lusitana, não foi infeliz com a alcunha que deu à sua mostra. De um cinema preso à genialidade de Manoel de Oliveira e João César Monteiro, são "novos diretores" esses cujas obras apenas pingam homeopaticamente nos festivais brasileiros.
Na mostra no Unibanco, os destaques ficam para "A Selva", co-produção Portugal-Brasil com elenco transmarítimo, de Maitê Proença a Chico Diaz. Há, ainda, o premiado em Veneza "Nha Fala", de Flora Gomes, de Guiné-Bissau, e o agraciado (inclusive no Anima Mundi de 2000) curta de José Miguel Ribeiro, "A Suspeita".

Gus van Sant alemão
No caso alemão, talvez o passado nada vulgar de sua filmografia -com cineastas do nível de um Lang, Murnau, Fassbinder, Herzog e até Wenders, nos anos 80- tenha congestionado o acesso a novos diretores. A exceção recente fica para o sucesso mundial de "Adeus, Lênin", que, ironicamente, é assinado por Wolfgang Becker, um cinqüentão que filma desde 1988.
A seleção oferecida pela Cinemateca Brasileira em associação com o Instituto Goethe parece mostrar obras pouco afeitas a ousadias narrativas. Opção que por vezes dá certo, como em "Berlim Fica na Alemanha", sobre um ex-presidiário na Alemanha pós-queda do Muro. Ou que causa certo estranhamento, como a história do africano tentando a sorte na Europa em "Anansi".
A forma e o tema ganham casamento perfeito no grande destaque desta mostra, "Excursão Escolar". Henner Winckler segue o caminho de Gus van Sant ao preservar o mistério sobre três adolescentes em excursão no litoral báltico. Tal distância, que impede psicologizações dos personagens, mantém a aura de mistério que existe nessa fase da vida -e à qual vários diretores se aventuram, ano a ano, acertando e errando na abordagem sobre o universo dos jovens.
Neste filme elogiado pela crítica norte-americana, Winckler dribla o sensacionalismo do tema, abolindo a música incidental e deixando na (não) expressividade do ótimo ator Steven Sperling toda a força desse nada sensacionalista longa sobre adolescentes.
As duas seleções cooperam para arejar o conhecimento sobre os cinemas alemão e português atuais, que ainda sofrem certo anonimato no Brasil pelo brilho que os grandes cineastas conquistaram no passado.


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