Dirigida por Paulo de Moraes, "Mente Mentira" se passa em ambiente regional violento e com figuras hostis

Texto do roteirista de "Paris, Texas" começa com o espancamento brutal de uma mulher pelo próprio marido

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando assumiu a direção de "Mente Mentira", que está em cartaz no teatro Raul Cortez, Paulo de Moraes de imediato afastou a opção de retirar os personagens da peça de Sam Shepard de um habitat específico: o meio rural norte-americano.
O texto traz, na leitura do diretor, personagens típicos do universo regionalista retratado por Shepard também nos roteiros de "Paris, Texas", filme de Wim Wenders, e em "Loucos de Amor", peça também levada ao cinema.
"Não dava para fazer uma adaptação para o Brasil, por exemplo", diz Moraes, que foi convidado para dirigir a montagem por Malvino Salvador (que também é ator e produtor da montagem).
O espancamento, quase até a morte, de uma mulher pelo marido abre a trama. A questão que segue é: essa surra seria suficiente para afastá-la de seu par? Ou o amor entre os dois permite excessos do gênero, num cenário em que a violência parece estar em todo lugar?

HOSTILIDADE
Para persuadi-los a tomar uma posição, entram em cena os familiares, tanto os dela quanto os dele. São figuras preciosas, hostis por natureza, sobretudo os mais velhos. Os jovens parecem mais maleáveis. Resistentes às tradições. Mas nunca a ponto de rejeitá-las por completo.
Daí uma possível interpretação do título original: "A Lie of the Mind" (uma mentira da mente). A memória -ou a falta de- com todos os seus contornos, permite ali a sobrevivência de algum tipo de romantismo.