São Paulo, Quinta-feira, 18 de Novembro de 1999
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EXPOSIÇÃO

Em individual, artista amplia interesse pela planta, exibindo espinhos

Rosas de Poser voltam bravias

Divulgação
"Espinhos", peças de cerâmica de Paulo von Poser


PAULO VIEIRA
especial para a Folha

O paulistano Paulo von Poser, 39, tem uma certa obsessão por rosas. Nos últimos dez anos desenhou, pintou, modelou, esculpiu a planta, notadamente a flor e suas pétalas. Mas uma visita ao imponente Jardim Botânico do Rio de Janeiro fez Poser olhar também para o caule -e para os espinhos.
O resultado é perceptível na mostra que o artista abre hoje, na Collectors, uma galeria dedicada originalmente a adeptos de art déco. Junto a pinturas sobre recortes de tela que simbolizam as pétalas, os espinhos estão lá, em cerâmicas cruas e pintadas. É a primeira vez que Poser representa o espinho.

Exorcismo
Foi uma espécie de libertação, segundo ele. ""Para a planta, o espinho é a proteção; para mim, foi o contrário, uma exorcismo."
A tradução disso é algo próximo da expressão "saí do ateliê". Poser finalmente conviveu com uma roseira real, no meio da Mata Atlântica do Jardim Botânico.
Desenhar no local fê-lo pensar menos abstratamente, deixar a rosa "mítica" por uma preocupação com a cidade, com sua própria formação de arquiteto, arquiteto que jamais desenvolveu um projeto de edificação.
Há, por isso, imagens de São Paulo (assim como há paisagens do Rio, que o deslumbraram), desenhadas a partir do Conjunto Nacional da avenida Paulista, um espaço que ele considera "regenerado". Há também imagens da várzea do rio Pinheiros, sob algumas pontes, áreas que vão para a coluna dos "degenerados".
Poser oferece essas imagens em suportes diferentes. As de Pinheiros, sobre pétalas de cerâmica, qual os pratos desenhados das famílias quatrocentonas; uma das várias visões da Paulista aparece num painel de azulejos.
Apesar da grande quantidade de espinhos, as flores sobressaem. Uma tridimensional, com reentrâncias e recortes, pendurada, ganha até um caráter de móbile.
"Queria que as rosas estivessem pela cidade, sobre as bancas da Doutor Arnaldo", afirma Poser.
Outras, bidimensionais, aplicadas à parede, recebem tinta acrílica em cores diferentes, que respeitam as cores naturais da flor e revelam as fibras da tela recortada. A dedicação a um tema "naif", esvaziado de significado na arte contemporânea, em geral malquisto, não preocupa Poser, que liga sua obsessão à idéia de regeneração que a flor lhe inspira.
Ter estado no Rio, encontrar uma roseira num lugar aparentemente não apropriado para uma espécie estrangeira também parece ter diminuído sua xenofobia.
"Uma pesquisadora me disse: "As plantas viajam". Coincidentemente, estava lá para minha primeira exposição fora de São Paulo, aquilo foi uma experiência decisiva", comenta Poser.


Exposição: Rosas no Ar
Artista: Paulo von Poser
Onde: Galeria Collectors (rua Melo Alves, 369, Jardim Paulista, tel. 852-4805)
Quando: seg. a sex., 10h às 19h; sáb., 10h às 14h (até 18 de dezembro)
Abertura: hoje, às 19h





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