São Paulo, Sábado, 18 de Dezembro de 1999 |
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FOTOGRAFIA "De Olhos Vendados" tem 58 imagens feitas durante a rebelião de outubro na unidade Imigrantes MIS expõe a Febem segundo os jornais
ANA MARIA GUARIGLIA free-lance para a Folha "De Olhos Vendados" é a exposição que está no Museu da Imagem e do Som (MIS), com 58 fotos de 19 repórteres fotográficos da Folha, "Notícias Populares", "Jornal da Tarde" e "O Estado de S. Paulo", que cobriram a rebelião da Febem, em outubro passado. Com a iniciativa, o MIS aposta "na vertente do museu vivo e abre espaço para o factual", explica Isabel Amado, curadora da mostra e coordenadora do setor de foto do museu. "As 58 imagens impressionam pela força e pelo impacto que contêm e pela maneira séria como divulgam a sucessão dos fatos", diz. A curadoria preparou textos explicativos, com perfis das famílias dos menores, um glossário de palavras usadas por eles e depoimentos dos fotógrafos. Para impedir a identificação dos menores, cerca de um terço das fotos está com tarjas negras sobre os olhos dos adolescentes retratados. "As fotos trazem uma tarja explícita e intencional para provocar reflexões: a lei manda tampar os olhos dos menores, mas os trata como animais", diz Isabel. A maioria das fotos já foi publicada pelos jornais. Agora, apresentadas juntas, ganham uma nova leitura e uma conotação visual mais vigorosa. Como explica João Bittar, editor de Fotografia da Folha, a importância da mostra é tratar um material de "hard news" (notícias quentes) como arte, revelando uma das facetas da crise social pela qual passa o país já há algum tempo. "A exposição nos permite ver a beleza trágica do material, como na foto de Aloisio Maurício, do "Notícias Populares", que mostra uma manhã de muita tensão na Febem." Há outras imagens significativas, como a de Carol Carquejeiro, do "Notícias Populares", mostrando três meninos fugitivos em uma das praias do litoral paulista. Para que não fossem reconhecidos, a fotógrafa pediu que movimentassem a cabeça, provocando borrões nos rostos. Carquejeiro também regulou o obturador da câmera em baixa velocidade e utilizou o flash para melhorar a iluminação. Fernando Costa Netto, editor-chefe do "Notícias Populares", acredita que, se a mídia desse aos massacres diários na periferia o mesmo espaço que deu ao episódio da Febem, é provável que a violência diminuísse devido às pressões que o governo receberia. "Com a exposição, quem saiu ganhando foi o jornalismo brasileiro. O MIS está de parabéns por dar sentido de "Fine Art" (estilo caracterizado por não depender da fotografia como arte aplicada) ao trabalho fotojornalístico, que levantou a podridão da Febem", diz Costa Netto. Exposição: De Olhos Vendados Quando: de ter. a dom., das 14h às 22h; até 6 de fevereiro Onde: MIS (av. Europa, 158, Jardins, tel. 852-9197) Quanto: entrada franca Próximo Texto: Internos são fotógrafos em mostra Índice |
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