São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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Delírio permeia "O Púcaro Búlgaro"

Adaptação do livro homônimo de Campos de Carvalho acompanha expedição de uma trupe de desmiolados à Bulgária

Na montagem, diretor Aderbal Freire-Filho retoma proposta do "romance-em-cena", com interferências mínimas no texto original


Divulgação
Da esq. para a dir., os atores Isio Ghelman, Ana Barroso, Audusto Madeira e Gillray Coutinho


GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Algumas considerações sobre o título "O Púcaro Búlgaro", do romance de Campos de Carvalho adaptado para o teatro por Aderbal Freire-Filho, com estréia paulistana marcada para amanhã: as palavras "púcaro" e "búlgaro" rimam e são proparoxítonas, ritmando o rococó contemporâneo com perfume surrealista do texto. E, se nem todo mundo sabe que púcaro é uma espécie de caneco com asas, esse é um truque do autor: entornar uma xícara de curiosidade à receita de um mistério.
Um trecho do prólogo do romance diz: "No verão de 1958, o autor visitava tranqüilamente o Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia quando, ao voltar-se um pouco para a direita, avistou de repente um púcaro búlgaro". A introdução investe declaradamente em um suspense. O autor citado é o protagonista, Hilário, cujas anotações num diário dão origem à narrativa. A visita ao museu americano e o contato com um púcaro búlgaro, singelo e antiquado, despertam nele a vontade não de conhecer, mas de descobrir a Bulgária.
O texto narra todos os preparativos de uma expedição. Com a pompa de um relatório oficial (por vezes utilizando um tecnicismo caduco e rebuscado, cheio de jogos de palavras inúteis para a narrativa, mas decisivos na criação de um delírio), faz o leitor-espectador navegar pela mente de um doido varrido, da projeção que ele faz de um trajeto impreciso a um lugar talvez inóspito, talvez perigoso, talvez incrível. A Bulgária pode ser "uma mancha de café no mapa da Europa".
Outros personagens, recrutados sob os critérios mais malucos a partir de um anúncio no jornal -"Expedição à Bulgária. Procuram-se voluntários"-, vão se somando à expedição: Radamés Stepanovicinski, um professor de bulgarologia, e Ivo que Viu a Uva, herdeiro de quem inventou o zero e que cobra royalties pelos zeros usados no mundo, completam, com outros, a tripulação.
A montagem do texto retoma o já conhecido exercício do "romance-em-cena", projeto de Aderbal que leva romances ao palco, sem adaptação. Como foi feito em "O que Diz Molero", de Dinis Machado, e "A Mulher Carioca aos 22 Anos", de Ariosto Palombo, a estrutura da narrativa em prosa é mantida, e os personagens contam a história, quase sempre usando a terceira pessoa, enquanto montam cada uma das cenas.
"Antes, eu dizia que era uma encenação sem adaptação, mas agora eu digo que é uma adaptação completa", diz Aderbal. Essa troca de termos coroa o diretor como autor não só da montagem, mas da dramaturgia que parte do romance usado. A ambientação da história, por exemplo, com a utilização de um apartamento decadente como fundo da trama, no caso do "Púcaro Búlgaro", não é descrita no texto original.
É um formato diferente do que é visto em "O Continente Negro", com Débora Falabella, em cartaz no teatro Faap. Ali, Aderbal segue um modelo mais ortodoxo de direção, encenando texto já pronto para o palco.
A peça de Marco Antônio De La Parra cruza histórias amorosas.

O PÚCARO BÚLGARO
Onde:
Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3234-3000)
Quando: estréia amanhã; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h
Quanto: R$ 20


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