FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A individual de Edgard de Souza em cartaz na galeria Luisa Strina reúne uma série de sete esculturas que, de certa forma, realizam uma síntese de sua carreira. Na obra de Souza, até então, três séries se destacam. Primeiro, a de objetos com contornos animalizados, em móveis revestidos com peles de animais. Depois, a de esculturas que assumem formas de fluídos corporais.
Por fim, a de seres antropomórficos em metal, muitos Dispostos em duplos, como se uma parte espelhasse a outra. Nas novas sete esculturas, a bestialização dos móveis alcança uma dinâmica quase humana, incorporando uma força dionisíaca até então presente especialmente nas obras antropomórficas.
Como se estivem congeladas no meio de uma ação específica -às vezes com caráter sexual, às vezes em uma situação de afago, às vezes apenas de tédio- as obras, sem título, dão a impressão de que vão se mover a qualquer momento.
São mesas de madeira elegantemente constituídas e dispostas em diversas poses, muitas vezes em duplas. A cena pode ser vista na sala principal da galeria, onde estão seis esculturas. No terceiro andar, há apenas uma mesinha solitária a suportar um pequeno abajur como apêndice. Plugado na parede, esse "ser" parece descontente com a posição. Esses ambientes um tanto surreais, tão usuais nos procedimentos do artista, continuam reverberando no outro conjunto: "As Manchas Falsas".
Compostas por 16 peças bidimensionais em pele de vaca, as manchas desenham figuras geométricas na superfície, tornando óbvia sua falsidade. Frente à vitalidade das peças em madeira, contudo, a série torna-se mais um comentário sobre a artificialidade da construção, enquanto a questão não interessa tanto nas esculturas, já que a fabulação que elas suscitam nos leva a um universo mais estranho e instigante.