São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Burle Marx ganha retrospectiva com pinturas e projetos no MAM

Mostra celebra centenário do paisagista que projetou o calçadão de Copacabana

Divulgação
Jardim de Burle Marx no terraço do Ministério de Educação e Saúde, prédio de Le Corbusier, no Rio

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Roberto Burle Marx pintava de manhã e fazia seus jardins à tarde. Viveu a época em que os mesmos princípios de construção valiam para uma cadeira, um canteiro, um quadro.
Nas telas, foi do realismo figurativo à abstração informal. No paisagismo, mastigou o racionalismo de Le Corbusier e desenhou as curvas ritmadas do calçadão de Copacabana.
Duas semanas antes do centenário de seu nascimento, Burle Marx (1909-1994) é tema de uma grande retrospectiva em cartaz no Museu de Arte Moderna, em São Paulo.
Numa cronologia invertida, a mostra começa com seus quadros mais recentes e regride até seus projetos paisagísticos dos anos 40 aos 60 -tentativa explícita de mostrar que seus jardins não foram traduções simples e diretas de suas telas.
De fato, Burle Marx ficou sempre à sombra de Guignard, Portinari e Di Cavalcanti na história da pintura brasileira, mas os jardins e parques que projetou, com flores e plantas no lugar dos pigmentos, incorporaram o passar do tempo à estética e ficaram na memória como ponto forte de seu legado.
"Ele faz composições permanentes com elementos instáveis", descreve Lauro Cavalcanti, 55, curador da mostra no MAM. "No parque do Flamengo, por exemplo, ele planeja coisas que só atingiriam seu apogeu dez anos depois."
Foi sua resposta ao modernismo. Se o movimento sustentado por Corbusier, Lucio Costa e Niemeyer preconizava um idealismo alheio à passagem dos anos, com condições rígidas de tempo e luz, Burle Marx introduz os ciclos de morte e vida das flores nos pátios e jardins dessa arquitetura estoica.
"A arquitetura moderna tem essa coisa platônica, que não responde ao tempo, não envelhece muito bem", afirma Cavalcanti. "A obra dele envelhece bem, tem seu ritmo."
No projeto dos jardins do Ministério de Educação e Saúde, prédio de Le Corbusier, no Rio, Burle Marx faz primeiro um esquema geometrizado, seguindo à risca a cartilha ortogonal do francês. Depois, refaz os traços com as curvas que se tornaram uma espécie de marca registrada de seus jardins e, por extensão, do modernismo brasileiro.
"Lá, ele começa a fazer os meandros, formas mais curvas que o projeto original orientado por Le Corbusier", lembra Cavalcanti. "Ele aterrissa esse cartesianismo no Brasil com a flora tropical e essas curvas que vão tomando o espaço."


ROBERTO BURLE MARX
Quando:
de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 13/9
Onde: Museu de Arte Moderna de SP (pq. Ibirapuera, tel. 5085-1300)
Quanto: R$ 5,50; entrada franca aos domingos



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