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TEATRO
"Amor e Restos Humanos", texto do dramaturgo canadense, chega a SP em arquibancada, para exercícios do olhar
Brad Fraser mineiro estréia para voyeurs
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
Por dentro da caixa de ferro, as
personagens se confrontam, deblateram. De uma arquibancada
de altura que varia entre dois e
cinco metros, a platéia assiste às
cenas, por vezes simultâneas, fazendo escolhas quanto ao direcionamento do olhar, descondicionando a visão, exercitando seu
voyeurismo congênito.
É com essa proposta cênica que
vem a São Paulo a montagem mineira de "Amor e Restos Humanos", sobre a peça do dramaturgo
canadense Brad Fraser ("Pobre
Super-Homem"), pelas mãos da
Odeon Companhia Teatral. A minitemporada começa amanhã, no
mezanino do Sérgio Cardoso.
O texto já teve encenação de
Maurício Paroni de Castro, em
2000, um ano antes de a Odeon,
fundada em 99, trazer ao Sesc
Consolação sua montagem de
"Ricardo 3º", de Shakespeare.
Estreada em novembro de 2001,
levada só em Belo Horizonte até
chegar a São Paulo, "Amor e Restos Humanos" foi apresentada
por lá em um galpão abandonado. O que, segundo o diretor, Carlos Gradim, 35, aclimava bem o
universo de solitários, individualistas, assassinos, drogados e homossexuais da trama.
O título em português da montagem é exatamente igual ao de
uma adaptação cinematográfica,
dirigida em 93 por Denys Arcand.
A encenação, entretanto, baseia-se no texto dramático, em inglês
"Unidentified Human Remains
and the True Nature of Love" (algo como restos humanos não
identificados e a verdadeira natureza do amor).
"Tive contato com uma tradução que reproduzia os diálogos do
filme, mas não estava me agradando. O que me interessou [no
original" foi a maneira como ele
conta a história. Os diálogos são
interrompidos, as cenas não se fecham. No filme, era mais lógico,
mais continuado", relata Gradim.
"A escolha do nome foi mais
questão de marketing. Até gosto
mais do título original", graceja.
O enredo conta com duas personagens principais, Carol e David, que dividem apartamento.
Encontram outras, agregadas aos
acontecimentos, que têm como
pano de fundo a metrópole impessoal e as demandas desencontradas por felicidade. Busca do
prazer e explosão da violência
ajudam a colorir as situações.
Gradim define o cenário e a estrutura de arquibancada da platéia como grandes enformadores
conceituais da encenação. "Desde
o início achava que não podia ser
num espaço convencional. O
princípio da minha concepção foi
que o espectador tivesse um olhar
de voyeur, escolhesse o ângulo, a
cena", diz. A cenografia da montagem é de André Cortez.
O diretor se lembra da primeira
interação com a obra de Fraser.
Foi por meio do filme de 93 que
lhe veio a inspiração para denominar a peça. "Sou de Belo Horizonte, vi-o em SP, onde morei por
uns tempos. Meu universo aqui
era próximo ao do filme: solidão,
falta de comunicação." No seio da
terra natal, pretende começar a
ensaiar "Antígona", de Sófocles.
Também tenciona montar o autor chileno Benjamín Galemiri.
AMOR E RESTOS HUMANOS. De: Brad
Fraser. Direção: Carlos Gradim. Com:
Odeon Companhia Teatral. Onde: teatro
Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel.
288-0136). Estréia amanhã, às 18h30. De
qui. a sáb., às 18h30, e dom., às 21h; até
6/10. Quanto: R$ 5 e R$ 10. Patrocinador:
MSA Tecnologia da Informação.
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