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Espetáculo faz paródia moderna de "Hamlet"
Texto de Robeto Alvim deixa de lado o realismo e busca "inconsciente" da dramaturgia de William Shakespeare
Estreia de Juliana Galdino na direção traz interpretações estilizadas e quase musicais, heranças de sua formação no CPT de Antunes Filho
Julieta Bacchin/Divulgação
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Cena da peça "H.A.M.L.E.T", releitura de Roberto Alvim do original de William Shakespeare
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um Hamlet obeso, permanentemente dopado numa cama de hospital, parece fazer
parte não de uma piada cênica
de mau gosto, mas, num primeiro momento, ao menos, de
uma antítese. Ou, quem sabe,
de uma mistura das duas coisas.
O criador dessa imagem, Roberto Alvim, no entanto, prefere chamar seu espetáculo
"H.A.M.L.E.T", em cartaz no
Club Noir, de "uma resposta" à
obra-prima do dramaturgo William Shakespeare, "escrita daqui do século 21".
"O Hamlet de Shakespeare
formaliza no teatro a ideia do
homem moderno, capaz de reflexão, consciente de si mesmo;
e me parece que esse homem
não existe mais", diz Alvim, que
decidiu-se por um texto estruturado em versos brancos, de
forma a sedimentar essa resposta como uma espécie de paródia bastante livre sobre a peça, muito mais do que uma
adaptação.
O espetáculo abre com Hamlet cantando ao som de um violão tocado por um burro, o que
de cara põe de lado o realismo
clássico da obra original. Alvim
preferiu um substrato "inconsciente da peça", com traços de
uma leitura levada por uma espécie de estados de vigília e de
sonho. "Me parecia muito estúpido não confiar na força do
texto e simplesmente trazer os
personagens para os tempos de
agora, transformando Hamet,
por exemplo, em um empresário", diz.
Em sua "resposta", enfim,
Roberto Alvim identifica um
homem contemporâneo que
cavou sua alienação no próprio
excesso de conhecimento. "A
crença na razão chegou a um tal
nível de autoconsciência que o
homem optou deliberadamente pelo naufrágio de si próprio."
A montagem "H.A.M.L.E.T"
descaracteriza ainda vários outros personagens do original: a
donzela Ofélia aparece como
um enfermeira que entra em
cena para aplicar injeções de
morfina no protagonista; Polônio, pai de Ofélia, é o psiquiatra
que cuida para que Hamlet permaneça em seu estado letárgico. A rainha Gertrudes se torna
uma mulher viciada em analgésicos.
A peça da Cia. Club Noir traz
Juliana Galdino estreando na
direção; e a concepção da ideia
da releitura também tem um
dedo seu. Nasceu de ensaios do
"Hamlet" original que a atriz
(que ganhou o Shell em 2002)
estava realizando com o grupo.
Sua direção busca interpretações estilizadas e quase musicadas. Herança do CPT de Antunes Filho, de onde Galdino
saiu.
H.A.M.L.E.T
Onde: Cub Noir (r. Augusta, 331, Consolação, tel: 3255-8448)
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h
Quanto: R$30
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