São Paulo, sábado, 20 de março de 2010

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Espetáculo faz paródia moderna de "Hamlet"

Texto de Robeto Alvim deixa de lado o realismo e busca "inconsciente" da dramaturgia de William Shakespeare

Estreia de Juliana Galdino na direção traz interpretações estilizadas e quase musicais, heranças de sua formação no CPT de Antunes Filho

Julieta Bacchin/Divulgação
Cena da peça "H.A.M.L.E.T", releitura de Roberto Alvim do original de William Shakespeare

GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um Hamlet obeso, permanentemente dopado numa cama de hospital, parece fazer parte não de uma piada cênica de mau gosto, mas, num primeiro momento, ao menos, de uma antítese. Ou, quem sabe, de uma mistura das duas coisas.
O criador dessa imagem, Roberto Alvim, no entanto, prefere chamar seu espetáculo "H.A.M.L.E.T", em cartaz no Club Noir, de "uma resposta" à obra-prima do dramaturgo William Shakespeare, "escrita daqui do século 21".
"O Hamlet de Shakespeare formaliza no teatro a ideia do homem moderno, capaz de reflexão, consciente de si mesmo; e me parece que esse homem não existe mais", diz Alvim, que decidiu-se por um texto estruturado em versos brancos, de forma a sedimentar essa resposta como uma espécie de paródia bastante livre sobre a peça, muito mais do que uma adaptação.
O espetáculo abre com Hamlet cantando ao som de um violão tocado por um burro, o que de cara põe de lado o realismo clássico da obra original. Alvim preferiu um substrato "inconsciente da peça", com traços de uma leitura levada por uma espécie de estados de vigília e de sonho. "Me parecia muito estúpido não confiar na força do texto e simplesmente trazer os personagens para os tempos de agora, transformando Hamet, por exemplo, em um empresário", diz.
Em sua "resposta", enfim, Roberto Alvim identifica um homem contemporâneo que cavou sua alienação no próprio excesso de conhecimento. "A crença na razão chegou a um tal nível de autoconsciência que o homem optou deliberadamente pelo naufrágio de si próprio."
A montagem "H.A.M.L.E.T" descaracteriza ainda vários outros personagens do original: a donzela Ofélia aparece como um enfermeira que entra em cena para aplicar injeções de morfina no protagonista; Polônio, pai de Ofélia, é o psiquiatra que cuida para que Hamlet permaneça em seu estado letárgico. A rainha Gertrudes se torna uma mulher viciada em analgésicos.
A peça da Cia. Club Noir traz Juliana Galdino estreando na direção; e a concepção da ideia da releitura também tem um dedo seu. Nasceu de ensaios do "Hamlet" original que a atriz (que ganhou o Shell em 2002) estava realizando com o grupo.
Sua direção busca interpretações estilizadas e quase musicadas. Herança do CPT de Antunes Filho, de onde Galdino saiu.


H.A.M.L.E.T
Onde:
Cub Noir (r. Augusta, 331, Consolação, tel: 3255-8448)
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h
Quanto: R$30



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