São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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entrevista

"Quando perdi a visão, dançava com a mente"

ENVIADA A BELO HORIZONTE

Celebrada como uma das grandes intérpretes de Gisel-le, Alicia Alonso diz que a história da jovem camponesa que enlouquece e morre de amor faz parte de sua vida. Nesta entrevista, ela relembra que, aos 19, ensaiava a coreografia mesmo presa em uma cama, depois da primeira de muitas cirurgias nos olhos que enfrentou. (AP)

 

FOLHA - Qual é a importância de "Giselle" na sua carreira?
ALICIA ALONSO - Giselle é o papel ideal para uma bailarina, porque representa uma época especial do romantismo. No primeiro ato, ela é uma moça; no segundo, já morta, um espírito. É necessário que haja uma transformação da bailarina. Eu e Giselle somos grandes amigas, nunca nos separamos.
Quando ouço a música de "Giselle", mesmo que esteja conversando, começo a dançar com os meus pensamentos, me esqueço de tudo e relembro passo a passo de cada personagem. Quando perdi a visão e tive que ficar em uma cama, sem poder me mover, dançava "Giselle" com as mãos e a mente. Quando saí da cama, voltei a dançar normalmente. "Giselle" é um dos episódios da minha vida. A minha vida é a dança.

FOLHA - Como a senhora vê o novo governo americano?
ALICIA - Para mim, a arte é um idioma universal. Eu fiz a minha carreira nos EUA, onde tenho muitos amigos. Sofro pelo povo americano. Acho que agora é uma chance de os EUA falarem com o mundo inteiro, de serem amigos, e não inimigos. Depois do segundo mandato do senhor Bush, quer dizer, do assassino Bush, tivemos o visto da companhia negado para entrar nos EUA...

FOLHA - Agora, com Barack Obama, talvez voltem?
ALICIA - Viajamos o mundo inteiro, estamos muito ocupados. Mas, vou repetir: temos grandes amigos nos EUA e um público lindo.

FOLHA - Grandes talentos cubanos ganharam o mundo nos últimos anos. Como se sente quando um bailarino vai embora?
ALICIA - É como construir uma pipa muito linda, colocá-la para voar e, de repente, alguém vem e a rouba. É uma sensação de roubo. Quando um bailarino se vai, está levando um pouco do povo de Cuba, porque toda a sua carreira foi paga pelo Estado.




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