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entrevista
"Quando perdi a
visão, dançava
com a mente"
ENVIADA A BELO HORIZONTE
Celebrada como uma das
grandes intérpretes de Gisel-le, Alicia Alonso diz que a
história da jovem camponesa que enlouquece e morre
de amor faz parte de sua vida.
Nesta entrevista, ela relembra que, aos 19, ensaiava
a coreografia mesmo presa
em uma cama, depois da primeira de muitas cirurgias
nos olhos que enfrentou.
(AP)
FOLHA - Qual é a importância de
"Giselle" na sua carreira?
ALICIA ALONSO - Giselle é o papel ideal para uma bailarina,
porque representa uma época especial do romantismo.
No primeiro ato, ela é uma
moça; no segundo, já morta,
um espírito. É necessário
que haja uma transformação
da bailarina. Eu e Giselle somos grandes amigas, nunca
nos separamos.
Quando ouço a música de
"Giselle", mesmo que esteja
conversando, começo a dançar com os meus pensamentos, me esqueço de tudo e relembro passo a passo de cada
personagem. Quando perdi a
visão e tive que ficar em uma
cama, sem poder me mover,
dançava "Giselle" com as
mãos e a mente. Quando saí
da cama, voltei a dançar normalmente. "Giselle" é um
dos episódios da minha vida.
A minha vida é a dança.
FOLHA - Como a senhora vê o
novo governo americano?
ALICIA - Para mim, a arte é
um idioma universal. Eu fiz a
minha carreira nos EUA, onde tenho muitos amigos. Sofro pelo povo americano.
Acho que agora é uma chance de os EUA falarem com o
mundo inteiro, de serem
amigos, e não inimigos. Depois do segundo mandato do
senhor Bush, quer dizer, do
assassino Bush, tivemos o
visto da companhia negado
para entrar nos EUA...
FOLHA - Agora, com Barack
Obama, talvez voltem?
ALICIA - Viajamos o mundo
inteiro, estamos muito ocupados. Mas, vou repetir: temos grandes amigos nos
EUA e um público lindo.
FOLHA - Grandes talentos cubanos ganharam o mundo nos últimos anos. Como se sente quando
um bailarino vai embora?
ALICIA - É como construir
uma pipa muito linda, colocá-la para voar e, de repente,
alguém vem e a rouba. É uma
sensação de roubo. Quando
um bailarino se vai, está levando um pouco do povo de
Cuba, porque toda a sua carreira foi paga pelo Estado.
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