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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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TEATRO

"Arlequim..." presta homenagem ao teatro popular; "Il Primo Mirácolo" apresenta gênero em sua forma autêntica

Montagens tentam servir a dois padrões

SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Recentemente apresentada no Brasil, a cinquentenária encenação do Piccolo Teatro de Milão para "Arlequim, Servidor de Dois Patrões" ainda está fresca o suficiente na memória da platéia para que uma leitura brasileira pareça uma temeridade.
Afinal, a técnica da commedia dell'arte não pode ser aprendida em poucos meses, apesar de os cursos se multiplicarem ultimamente. É preciso uma vida para se dedicar a Arlequim, como demonstra o inesquecível arlequim milanês Ferruccio Soleri.
Luiz Arthur Nunes, no entanto, é diretor experiente. Sabe dialogar com a montagem de Strehler sem perder de vista os recursos com que pode contar.
Assim, apesar de um elenco no qual é patente a falta de experiência de alguns, se apóia na tradução de Millôr Fernandes e na trilha sonora de João Carlos Assis Brasil para uma montagem que flui agradavelmente.
Apresenta-se para a corte -no penúltimo sábado, uma platéia de autoridades políticas- ao mesmo tempo em que se presta homenagem ao teatro popular.
Melhor do que isso, só o teatro popular autêntico, que, apesar da homenagem, continua em geral passando despercebido quando está em cartaz. Um exemplo disso é "Il Primo Mirácolo".
Sem figurino, trilha ou cenário, dirigindo a si mesmo em mais de 20 personagens, em um espetáculo que percorre há mais de dez anos os teatros do mundo, Roberto Birindelli faz valer o que há de mais nobre no teatro popular ao compartilhar a fábula de Dario Fo, na qual Cristo menino promove uma seminal reflexão sobre preconceito e poder.
Com a indignação mascarada pela irreverência, e sobretudo com uma generosa cumplicidade com a platéia, "Il Primo Mirácolo" promove a mais emocionante defesa da fé verdadeira desde o "Tartufo" de Molière.
Molière que, como Goldoni, sabia servir tanto a corte quanto os cidadãos. Porque não importam tanto os recursos ou o endereço do espetáculo: será sempre pleno o palco em que pisam atores como Roberto Birindelli.

Arlequim, Servidor de Dois Patrões


   
Texto: Carlo Goldoni
Direção: Luiz Arthur Nunes
Com: Marcos Breda, Camila Pitanga e outros
Onde: Teatro das Artes (shopping Eldorado, av. Rebouças, 3.970, tel. 3034-0075)
Quando: de qui. a sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 31/8
Quanto: de R$ 25 a R$ 50
Patrocinador: Alcoa

Il Primo Mirácolo

    
Texto: Dario Fo
Direção e interpretação: Roberto Birindelli
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Paulo Emílio Salles Gomes (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611)
Quando: sex. e sáb., às 21h, e dom., às 20h; até 20/7
Quanto: R$ 10



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