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TRECHO
"Senti minha alma indo embora e desabei no
chão com uma dor fortíssima no estômago,
um farrapo humano.
Eles ficaram apavorados, pensaram que eu
ia morrer ali mesmo. É
que aqueles selvagens
não comem carne que
morre sozinha. Tem de
ser morta por eles, carne fresca. Senão eles
vomitam! Rapidamente me jogaram na rede,
e as garotas conseguiram me ressuscitar com
a respiração boca-a-boca. Com um fio de
voz, perguntei ao pajé,
o chefe dos feiticeiros:
"Por que vocês escolheram comer justamente
eu? Logo eu, que nem
sou muito carnudo. Vocês podiam muito bem
ter escolhido um dos
meus companheiros,
que são mais rechonchudos e têm a carne
mais macia que a minha". "É verdade"
-disse o pajé- "Mas
você é mais alegre...
mais divertido. A carne
de quem brinca muito,
dá muitas risadas e faz
palhaçadas, é carne
boa, saudável... traz
alegria. Carne de gente
triste, igual os teus
companheiros, não
desce, dá azia, má digestão, pesadelos e,
principalmente, mau
hálito"."
TRECHO DE "LA BARCA
D'AMÉRICA", DE DARIO FO
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