Divulgação

Dieppe, França, 1926’, que está em ‘Henri Cartier-Bresson: Fotógrafo’, no Sesc Pinheiros

TUCA VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A exposição "Henri Cartier -Bresson: Fotógrafo" é uma boa oportunidade para rever um dos mitos que cercam sua obra.
Basta citar seu nome que o termo "momento decisivo" vem à mente, explicando de forma redutora seu legado, sugerindo um simples colecionador de flagrantes.
O termo apareceu na introdução ao seu livro "Images à la Sauvette" (algo como imagens furtivas), quando Bresson cita certo Cardeal de Retz: "Não há nada no mundo que não tenha seu momento decisivo". De difícil tradução para o inglês, o título da versão norte-americana passou a ser, então, "The Decisive Moment".
Bresson nunca usou o termo nesse texto, quase um manifesto de seu método de trabalho.
Suas definições de fotografia sempre se referiam mais ao ato de fotografar do que ao objeto fotografado, como se a verdadeira tensão se desse atrás da câmera e não diante dela.
Essa simplificação em torno do momento decisivo talvez seja induzida pela famosa fotografia "Atrás da Estação de Saint-Lazare", onde um homem que salta está prestes a cair numa poça d'água. Não é exatamente nesse tipo de fotografia, em que o milésimo de segundo é o mote da imagem, que reside o mérito de Bresson.
A perplexidade diante de suas imagens vem da simplicidade, da pureza, da economia de meios, da sofisticação estética, da preocupação humanística, do senso de oportunidade. O termo "momento decisivo" pouco acrescenta à compreensão de sua obra, além daquilo que já é inerente à fotografia. A rigor nenhuma fotografia se repete, decisivos são todos os momentos de um fotógrafo.