|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"A Questão Humana"
Filme critica o mundo corporativo e examina feridas abertas do nazismo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Poderia ser um desses filmes
sobre o neoliberalismo com os
quais é fácil concordar antes
mesmo de entrar no cinema e
que, depois, verificamos que de
fato não havia necessidade de
ter ido ao cinema.
"A Questão Humana" começa com o psicólogo Simon
Kessler (Mathieu Amalric)
lembrando dos ajustes que reduziram drasticamente o pessoal na empresa franco-alemã
em que trabalha. Logo, porém,
o diretor adjunto pede-lhe que
investigue o que acontece com
Mathias Jüst (Michael Lonsdale, admirável), o diretor geral,
que tem dado sinais de perturbação nos últimos tempos.
O psicólogo vê-se assim reduzido à condição de detetive.
Reduzido ou reconduzido?
Pois psicólogos de RH sempre
são detetives a serviço da empresa. Aqui as coisas começam
a se embrulhar um pouco: se
funcionários são soldados o
que pode acontecer quando o
general dá sinais de fraqueza?
À medida que revira o assunto, Nicolas Klotz logo nos leva a
europeus (e a uma Europa) ainda povoada pelas pesadas sombras do nazismo.
Klotz dá outra volta no parafuso, quando introduz o personagem Arie Neumann (Lou
Castel). Com Arie em cena o filme fecha o cerco: há a morte da
linguagem pelo nazismo. E
existe a morte da linguagem
atual, num mundo "eficaz", em
que não há "questões", só "problemas que os técnicos estão
resolvendo". É um modo terrível de ver as coisas, mas é um
belíssimo filme.
A QUESTÃO HUMANA
Direção: Nicolas Klotz
Produção: França, 2007
Com: Mathieu Amalric, Michael
Lonsdale, Jean-Pierre Kalfon
Quando: hoje, às 17h30, no Cinesesc; amanhã, às 18h20, no Reserva
Cultural; ter., às 12h30, no Unibanco Arteplex
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: 31ª Mostra de SP Análise/Seleção de filmes da África: Longas revelam a pluralidade africana Próximo Texto: Mostra de SP entra para calendário cultural oficial Índice
|