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Crítica/"Vocês, os Vivos"
Filme sueco é um "ocni", objeto cinematográfico não-identificado
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Não há nada muito parecido por aí com "Vocês, os Vivos", de Roy
Andersson.
Um dos grandes destaques da
mostra "Um Certo Olhar" do
Festival de Cannes deste ano
(só não participou da competição, porque não ficou pronto a
tempo e foi incluído na programação a posteriori), o filme poderia ser classificado como um
"ocni" -objeto cinematográfico não-identificado-, sigla que
alguns críticos gostam de usar
para (não) definir obras originais e estranhas.
Apesar de sueco, Andersson
nada tem de Bergman. Se há
paralelos possíveis com outros
diretores, eles estariam no humor do finlandês Aki Kaurismaki e no estilo do francês Jacques Tati. Mesmo assim, são
parentescos distantes.
Andersson é um diretor bissexto. Fez apenas dois longas
na década de 70 (hoje desconhecidos, apesar de o segundo,
"Uma História de Amor Sueca",
ter passado na competição do
Festival de Berlim) e ficou 15
anos sem filmar.
Em 2000, voltou à cena com
o igualmente bizarro "Canções
do Segundo Andar", que levou o
Prêmio do Júri em Cannes (e
também está em exibição especial nesta Mostra).
"Vocês, os Vivos" segue a
mesma lógica de "Canções...":
são esquetes independentes
entre si, filmados em um plano
único, cada um contando uma
historinha ou "gag" fechada.
Em comum entre eles está a câmera estática, a luz fria e o visual estilizado, de tons predominantemente marrons e cinza. Aqui, mais do que em "Canções...", Andersson acentua o
humor e a utilização da música.
Os esquetes quase sempre se
situam em cenários do cotidiano como escritórios, apartamentos, bares ou restaurantes.
Muitas vezes são filmados como "tableaux" que se parecem
com "cartoons"; outras, ganham tom fantástico, delirante.
As situações, em geral, exploram aspectos patéticos do ser
humano, mas Andersson consegue fazer isso sem cair em um
tom depreciativo.
Grandeza da existência
Uma mulher termina com
seu namorado, um homem ensaia com uma tuba, outro narra
um sonho estranho, e por aí vai.
Quando vemos, está lá o filme
inteiro, divertido, estranho, e
dono de um sentido muito particular.
"Vocês, os Vivos" tem como
"tagline" uma definição irônica: "Um filme sobre a grandeza
da existência". Mas, apesar da
pequenez das situações que
descreve, Andersson acaba
transmitindo algo de realmente grandioso, escondido nas entranhas de uma fórmula aparentemente simples.
VOCÊ, OS VIVOS
Direção: Roy Andersson
Produção: Suécia/Alemanha/França/Dinamarca/Noruega
Com: Jessica Lundberg, Elisabet
Helander, Björn Englund
Quando: amanhã, às 20h40 no Unibanco Artplex; seg., às 17h30, no Cine Bombril; qui., às 16h10, no Reserva Cultural; sexta, às 20h20, no
Cinesesc
Avaliação: ótimo
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