São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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32ª MOSTRA DE SP

"Meio-brasileiro" retrata "geração web"

Antonio Campos, 25, estréia na direção de longa com "Depois da Escola", produção dos EUA escrita em residência em Cannes

Filho do jornalista mineiro Lucas Mendes e nascido em NY, diretor começou a fazer curtas aos 13, quando já escrevia sobre adolescentes

Fotos Divulgação
O ator Ezra Miller, protagonista de "Depois da Escola", interpreta Robert, adolescente que testemunha morte de irmã gêmeas

CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL

A produção é dos EUA, o roteiro tem o apoio do Festival de Cannes, e o diretor, de 25 anos, é "meio-brasileiro". Uma das curiosidades desta 32ª Mostra Internacional de Cinema de SP é a estréia de Antonio Campos na direção de longa-metragem, com "Depois da Escola".
O garoto, nascido em Nova York e filho do jornalista mineiro Lucas Mendes ("Manhattan Connection"), chamara a atenção da mídia ao vencer, em 2005, o prêmio de melhor curta na Cinéfondation, mostra de Cannes dedicada a estudantes.
Para o filme, "Buy it Now" (compre agora), Campos colocou a virgindade de uma garota de 16 anos a leilão no Ebay.
Mas, muito antes, ele já era um diretor de cinema. Sua estréia foi aos 13 anos, quando mentiu ter 16 para entrar no curso de produção da New York Film Academy. Lá, fez o curta "Puberty" (puberdade), que dedicou a "minha mãe, meu pai... e Stanley Kubrick".
Desde então, continuou fazendo "um filme ao ano", até entrar na faculdade. O prêmio na Cinéfondation começou a abrir as portas da profissão para Campos, que se inscreveu então para um programa de residência do Festival de Cannes.
Com o apoio francês, escreveu parte do roteiro de "Depois da Escola" -agora inspirado, segundo diz, no documentarista Frederick Wiseman.
No longa, ele volta a unir adolescentes e internet ao retratar a relação de um garoto com a morte de duas belas e ricas gêmeas por overdose acidental.
O tempo que o protagonista não passa na escola é dedicado a vídeos (em especial pornôs) na web -onde, é claro, também vão parar todas as imagens relacionadas às mortes.
Campos, que arranha o português, prefere explicar o filme em inglês, em entrevista à Folha: "Para mim, é sobre experimentar algo superficialmente versus experimentar realmente; se tornar indiferente ao que acontece por causa de uma superexposição a imagens. O constante consumo de imagens muda a percepção do mundo".

Atentados
Segundo ele, "a idéia de estar muito perto e se sentindo muito desconectado [de um acontecimento]" foi o que deu origem ao roteiro. Campos experimentou a sensação após o 11 de Setembro -nos atentados, viu um amigo perder o pai em uma das torres gêmeas.
Ainda adolescente, diz que ficou "confuso", pensando que todos à volta estavam "sentindo algo diferente".
Mas, ao contrário do que escreveu Lucas Mendes em coluna na "BBC Brasil", o filme não foi concebido como uma "alegoria à destruição das torres". "Você pode olhar para o filme assim", diz Campos. "Mas não [é a intenção]. É que a idéia original surgiu do 11 de Setembro, mas ao longo dos anos se desenvolveu e mudou muito."
Além do fato de as gêmeas morrerem juntas e sem chance de socorro, a escola adota uma postura de guerra contra as drogas: os alunos passam a ter suas mochilas revistadas, alguns são expulsos, o ambiente muda. "Há certas semelhanças, comparações que se pode fazer. Mas, para o filme funcionar, tem que funcionar sozinho."
Campos diz que sua estréia em um longa, exibido nos festivais de Londres, NY e Cannes, "não muda seu jeito de fazer filmes". "Só não considero mais fazer curtas", diz ele, que já prepara outro roteiro envolvendo um adolescente.


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