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32ª MOSTRA DE SP
Mutante estrela sessão-show
Estréia de "Loki - Arnaldo Baptista" na Mostra de SP tem presença do músico e ovação de quatro minutos
Platéia registra presença de personagens do filme, que sairá em 2009 só em DVD; produtor estima que estréia nos cinemas daria prejuízo
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Como se a telona do Cinesesc
fosse um palco do qual acabasse de descer, o músico Arnaldo
Baptista deu-lhe as costas, às
23h40 da última sexta, e cruzou
o corredor central do cinema
aplaudido de pé (durante quatro minutos) pela platéia que
lotou a primeira sessão da cinebiografia "Loki -°Arnaldo Baptista" na Mostra de SP.
A reação do público paulista
ao filme que revisita a trajetória
de Baptista desde a criação dos
Mutantes, nos anos 60, passando pela dissolução do grupo, até
a volta triunfal (sem Rita Lee),
em 2006, em Londres, foi igual
a que tivera a platéia do Festival do Rio, no início deste mês.
"É ainda mais emocionante
poder mostrar o filme aqui, onde tudo começou, para as pessoas que estão nele", diz o diretor Paulo Henrique Fontenelle.
O artista plástico Antônio
Peticov era um dos que estavam ao mesmo tempo na tela e
na platéia. No filme, ele fala da
amizade com Baptista, conta
que apresentou o LSD aos Mutantes, em 1970, quando eles
gravavam "Tecnicolor", em
Londres, e relembra a preocupação que teve com a saúde de
Baptista, poucos anos depois,
quando o músico lhe disse que
estava construindo uma nave
espacial, da qual gostaria que
Peticov fosse o piloto.
Terminada a sessão, com
olhos avermelhados pelas lágrimas, assim como a maioria da
platéia, Peticov disse: "O tempo
arruma tudo. É muito bom ver
o trabalho de um artista maior,
que foi tão injustiçado".
Sentado na primeira fila,
Baptista acompanhou a sessão,
ausentando-se brevemente no
trecho que trata de sua tentativa de suicídio, no Réveillon de
1982, quando se atirou do quarto andar do hospital em que fazia tratamento psiquiátrico.
No fim do filme, Baptista diz
sonhar com o dia em que "diga
xis e as pessoas entendam xis".
Na última sexta, o público pareceu compreendê-lo à perfeição.
"Loki - Arnaldo Baptista" deverá ser lançado em DVD em
2009 e, depois, exibido no Canal Brasil, que o produz. Fontenelle diz sentir certa frustração
por não ter seu filme lançado
nas salas. "Acho triste ele não
poder estrear, pela dificuldade
que seria botá-lo em cartaz."
A dificuldade é financeira,
conforme explica o produtor-executivo do longa, André
Saddy. A estimativa do que se
gastaria com pagamento de direitos autorais de músicas e
imagens de arquivo de TV para
exibição nos cinemas, comparada com sua provável renda de
bilheteria aponta prejuízo.
Fetiche
"Além disso, é um discurso
do Canal Brasil que nem todo
documentário precisa ir para o
cinema. Lançá-lo seria um fetiche nosso", diz Saddy.
Ao ser eleito pelo voto popular o melhor documentário do
Festival do Rio, "Loki - Arnaldo
Baptista" teve direito a prêmio
da Globo Filmes de R$ 100 mil
em mídia na TV Globo para a
divulgação da estréia. Saddy espera convencer a Globo a promover o DVD, "que é o lançamento que esse filme terá".
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