São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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32ª MOSTRA DE SP

Mutante estrela sessão-show

Estréia de "Loki - Arnaldo Baptista" na Mostra de SP tem presença do músico e ovação de quatro minutos

Platéia registra presença de personagens do filme, que sairá em 2009 só em DVD; produtor estima que estréia nos cinemas daria prejuízo

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Como se a telona do Cinesesc fosse um palco do qual acabasse de descer, o músico Arnaldo Baptista deu-lhe as costas, às 23h40 da última sexta, e cruzou o corredor central do cinema aplaudido de pé (durante quatro minutos) pela platéia que lotou a primeira sessão da cinebiografia "Loki -°Arnaldo Baptista" na Mostra de SP.
A reação do público paulista ao filme que revisita a trajetória de Baptista desde a criação dos Mutantes, nos anos 60, passando pela dissolução do grupo, até a volta triunfal (sem Rita Lee), em 2006, em Londres, foi igual a que tivera a platéia do Festival do Rio, no início deste mês.
"É ainda mais emocionante poder mostrar o filme aqui, onde tudo começou, para as pessoas que estão nele", diz o diretor Paulo Henrique Fontenelle.
O artista plástico Antônio Peticov era um dos que estavam ao mesmo tempo na tela e na platéia. No filme, ele fala da amizade com Baptista, conta que apresentou o LSD aos Mutantes, em 1970, quando eles gravavam "Tecnicolor", em Londres, e relembra a preocupação que teve com a saúde de Baptista, poucos anos depois, quando o músico lhe disse que estava construindo uma nave espacial, da qual gostaria que Peticov fosse o piloto.
Terminada a sessão, com olhos avermelhados pelas lágrimas, assim como a maioria da platéia, Peticov disse: "O tempo arruma tudo. É muito bom ver o trabalho de um artista maior, que foi tão injustiçado".
Sentado na primeira fila, Baptista acompanhou a sessão, ausentando-se brevemente no trecho que trata de sua tentativa de suicídio, no Réveillon de 1982, quando se atirou do quarto andar do hospital em que fazia tratamento psiquiátrico.
No fim do filme, Baptista diz sonhar com o dia em que "diga xis e as pessoas entendam xis". Na última sexta, o público pareceu compreendê-lo à perfeição.
"Loki - Arnaldo Baptista" deverá ser lançado em DVD em 2009 e, depois, exibido no Canal Brasil, que o produz. Fontenelle diz sentir certa frustração por não ter seu filme lançado nas salas. "Acho triste ele não poder estrear, pela dificuldade que seria botá-lo em cartaz."
A dificuldade é financeira, conforme explica o produtor-executivo do longa, André Saddy. A estimativa do que se gastaria com pagamento de direitos autorais de músicas e imagens de arquivo de TV para exibição nos cinemas, comparada com sua provável renda de bilheteria aponta prejuízo.

Fetiche
"Além disso, é um discurso do Canal Brasil que nem todo documentário precisa ir para o cinema. Lançá-lo seria um fetiche nosso", diz Saddy.
Ao ser eleito pelo voto popular o melhor documentário do Festival do Rio, "Loki - Arnaldo Baptista" teve direito a prêmio da Globo Filmes de R$ 100 mil em mídia na TV Globo para a divulgação da estréia. Saddy espera convencer a Globo a promover o DVD, "que é o lançamento que esse filme terá".


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