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São Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

EXPOSIÇÃO

Quadros do pintor produzidos durante a ocupação holandesa em PE retratam fauna, flora e povo brasileiros

Albert Eckhout representa o puro pop colonial

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Abertura da mostra de Eckhout, que traz quadros como (a partir da esq..) "Mulher Negra", "Homem Negro", "Mulher Mameluca" e "Homem Tupi"


FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Eckhout volta após 360 anos, em mostra na Pinacoteca. O que nos contam do Brasil as 24 pinturas emprestadas pela atual rainha da Dinamarca?
O conjunto foi produzido durante a crise da América portuguesa. A Espanha apossara-se de Portugal depois do sumiço do rei luso d. Sebastião. O Brasil se converteu em colônia hispânica, e Pernambuco fora invadido por holandeses.
O príncipe batavo Maurício de Nassau (1604-1679) criou para si uma residência renascentista em Recife. O palácio Friburgo era um verdadeiro complexo de diversões educativas, entre salões temáticos e jardim zoobotânico.
Albert Eckhout (1610-1665) foi trazido da Europa junto com outros artistas para edificar a corte do governador Nassau. Permaneceu aqui entre 1637 e 1644. Toda a obra remanescente do período brasileiro está agora em exibição no museu do Parque da Luz.
Completam a mostra uma vista do Recife em 1637, de Peeters, três retratos de emissários diplomáticos, de autoria incerta, livros e gravuras do século 17.
As primeiras salas tematizam dois ciclos decorativos encomendados para aposentos palacianos. Nos quatro pares de alegorias e 12 naturezas-mortas, Eckhout retratou animais, vegetais, conchas e utensílios das coleções e jardins de Nassau.
O percurso encerra-se com o quadro histórico "Dança dos Tapuias", composto horizontalmente no primeiro plano à maneira de friso antigo.
A Pinacoteca oferece, ainda, vasto material informativo complementar. Um dos cômodos simula o palácio de Nassau, onde se dispõem cinco cópias de Paulo Poser que ilustram a situação decorativa para a qual teriam sido produzidos os originais presentes na mostra.
As imagens de Eckhout prefiguram questões recorrentes da estética brasileira. Os casais alegóricos evidenciam a composição mista do tipo local: mameluca, mulato, negros, Tapuias e Tupis. A atração pelo ornamento tropical destaca-se entre naturezas-mortas e fundos com paisagens do Nordeste seiscentista.
A coleção Eckhout retornou ao Velho Mundo com o fim da dominação holandesa. Em 1656, foi doada ao rei dinamarquês Frederico 3º. Desde então, representa nossas maravilhas no imaginário europeu: primeiro como parte dos tesouros de Copenhagen, depois como referência imitada na série de tapeçarias francesas "Antigas e Novas Índias", da fábrica dos Gobelins. Puro pop colonial.


Albert Eckhout Volta ao Brasil     
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel. 229-9844)
Quando: ter. a dom.: 10h às 18h. Até 30/03
Quanto: entrada franca
Patrocínio: Banco Real



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