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ARTES/CRÍTICA
A mostra "Interfaces Contemporâneas" esclarece identidade do museu da Universidade de São Paulo
MAC faz reflexão irregular em aniversário
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
É irregular a reflexão do
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
sobre os 40 anos da própria história. Mas "Interfaces Contemporâneas" esclarece a identidade do
museu da maior universidade pública da América do Sul.
O MAC surgiu do encampamento da coleção do Museu de
Arte Moderna pela intelectualidade uspiana. Em 1963, o acervo do
MAM foi transferido pelo próprio
fundador, Ciccillo Matarazzo, para a universidade, coroando-se o
ato pelo acréscimo da coleção
pessoal do mecenas e de sua mulher ao dote.
A origem situa o MAC no debate do pós-guerra. Ciccillo colaborou ativamente com os interesses
norte-americanos no Brasil agenciados por Nelson Rockfeller.
Duas tarefas eram a consolidação
da arte moderna como idade necessária da história universal e a
difusão do abstracionismo contra
o realismo socialista.
Da fundação, vemos imagens
dos mecenas, dentre as quais há a
"Yolanda Penteado" (1958) retratada por Di Cavalcanti empunhando livro contra fundo geométrico. Rockfeller é representado pelo "Móbile Amarelo, Preto,
Vermelho e Branco", de Calder.
A coleção original de arte moderna distingue o MAC. Reencontramos a "Natureza-Morta",
de Braque, frente às "Figuras"
(1945), de Picasso.
Adiante, a abstração brasileira.
Surgida após 1947, foi impulsionada pela grande colaboração
Matarazzo-Rockfeller: a Bienal de
São Paulo, cujas obras premiadas
eram incorporadas ao MAC. Na
seção "Obra em Contexto", a relação fundadora entre a Bienal e
nossa abstração é tematizada pelo
confronto entre o "Movimento"
(1951), de Waldemar Cordeiro, e a
"Unidade Tripartida" (1948/49),
do suíço Max Bill, premiada pela
Bienal de São Paulo, em 1951.
Contudo a primeira linha autêntica do MAC está mal representada: o neo-surrealismo. A
participação do MAC no neo-surrealismo colocou a instituição
num diálogo internacional, mas
dessa fase vemos apenas a "Fábula" (1965), de Bin Kondo.
A arte experimental dos anos 60
e 70 mereceu ampla sala: "O Museu-Fórum Revisitado". O "Conceito Espacial" amarelo (1965), do
argentino Fontana, defronta-se
com mostra da coleção de videoarte de 1974 a 1981. As obras
do período foram recentemente
restauradas.
Entretanto, a sala contemporânea é conservadora. A representação da década de 90 divide-se em
três eixos: vida e morte, neoconstrutivismo e identidades locais
durante a globalização. Mas predominam obras construtivas tradicionais, como o "Penetrável",
de Jesus Soto, ou neo-surrealistas,
como "Life Vests" (1991), de Fabiana de Barros.
A ausência atual de riscos ou experimentalismo corre paralela
com a transferência do MAC do
Ibirapuera para a Cidade Universitária, ambos fenômenos da última década. O enfeudamento representa opção da USP por uma
reflexão voltada para trás.
Interfaces Contemporâneas
Curadoria: Elza Ajzenberg e equipe
Onde: MAC-USP(r. da Reitoria, 160, tel.
3091-3327)
Quando: De ter. a sex., das 10h às 19h,
sáb. e dom., das 10h às 16h. Até 8/6
Quanto: entrada franca
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