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São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

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ARTES/CRÍTICA

A mostra "Interfaces Contemporâneas" esclarece identidade do museu da Universidade de São Paulo

MAC faz reflexão irregular em aniversário

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

É irregular a reflexão do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo sobre os 40 anos da própria história. Mas "Interfaces Contemporâneas" esclarece a identidade do museu da maior universidade pública da América do Sul.
O MAC surgiu do encampamento da coleção do Museu de Arte Moderna pela intelectualidade uspiana. Em 1963, o acervo do MAM foi transferido pelo próprio fundador, Ciccillo Matarazzo, para a universidade, coroando-se o ato pelo acréscimo da coleção pessoal do mecenas e de sua mulher ao dote.
A origem situa o MAC no debate do pós-guerra. Ciccillo colaborou ativamente com os interesses norte-americanos no Brasil agenciados por Nelson Rockfeller. Duas tarefas eram a consolidação da arte moderna como idade necessária da história universal e a difusão do abstracionismo contra o realismo socialista.
Da fundação, vemos imagens dos mecenas, dentre as quais há a "Yolanda Penteado" (1958) retratada por Di Cavalcanti empunhando livro contra fundo geométrico. Rockfeller é representado pelo "Móbile Amarelo, Preto, Vermelho e Branco", de Calder.
A coleção original de arte moderna distingue o MAC. Reencontramos a "Natureza-Morta", de Braque, frente às "Figuras" (1945), de Picasso.
Adiante, a abstração brasileira. Surgida após 1947, foi impulsionada pela grande colaboração Matarazzo-Rockfeller: a Bienal de São Paulo, cujas obras premiadas eram incorporadas ao MAC. Na seção "Obra em Contexto", a relação fundadora entre a Bienal e nossa abstração é tematizada pelo confronto entre o "Movimento" (1951), de Waldemar Cordeiro, e a "Unidade Tripartida" (1948/49), do suíço Max Bill, premiada pela Bienal de São Paulo, em 1951.
Contudo a primeira linha autêntica do MAC está mal representada: o neo-surrealismo. A participação do MAC no neo-surrealismo colocou a instituição num diálogo internacional, mas dessa fase vemos apenas a "Fábula" (1965), de Bin Kondo.
A arte experimental dos anos 60 e 70 mereceu ampla sala: "O Museu-Fórum Revisitado". O "Conceito Espacial" amarelo (1965), do argentino Fontana, defronta-se com mostra da coleção de videoarte de 1974 a 1981. As obras do período foram recentemente restauradas.
Entretanto, a sala contemporânea é conservadora. A representação da década de 90 divide-se em três eixos: vida e morte, neoconstrutivismo e identidades locais durante a globalização. Mas predominam obras construtivas tradicionais, como o "Penetrável", de Jesus Soto, ou neo-surrealistas, como "Life Vests" (1991), de Fabiana de Barros.
A ausência atual de riscos ou experimentalismo corre paralela com a transferência do MAC do Ibirapuera para a Cidade Universitária, ambos fenômenos da última década. O enfeudamento representa opção da USP por uma reflexão voltada para trás.


Interfaces Contemporâneas
   
Curadoria: Elza Ajzenberg e equipe
Onde: MAC-USP(r. da Reitoria, 160, tel. 3091-3327)
Quando: De ter. a sex., das 10h às 19h, sáb. e dom., das 10h às 16h. Até 8/6
Quanto: entrada franca



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