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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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ERUDITO

Ópera apresentada em SP pela última vez em 63 terá quatro récitas

Após 40 anos, Verdi volta a fazer rir, com "Falstaff"

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

É até banalizante lembrar que Giuseppe Verdi (1813-1901) foi a grande referência musical e romântica da Itália no século 19. Ou então mencionar os vagões-cisternas de lágrimas sinceramente vertidas com o desfecho de seus dramas e tragédias.
Mas eis que em 1893, passados 13 dias de seu 80º aniversário, Verdi estreava no Scala de Milão o último de seus 26 trabalhos para o mundo lírico, e que seria, paradoxalmente, uma deliciosa comédia.
"Falstaff", com libreto de Arrigo Boito, baseou-se em duas conhecidas peças de William Shakespeare, "As Alegres Comadres de Windsor" e "Henrique 4º".
A ópera foi pela última vez encenada em São Paulo em 1963, lá se vão 40 anos. Há sete anos, em razão da crise financeira da prefeitura, foi executada em versão de concerto, sem cenários ou figurinos, mas com a regência de Isaac Karabtchevsky.
Ela volta hoje à noite ao Teatro Municipal, com direção musical de Ira Levin e direção cênica de José Possi Neto. A temporada terá quatro récitas.
Sir John Falstaff, o personagem-título, é um nobre falido e absolutamente acrítico com relação à própria decadência. Além disso, ele é feio, velho e gordo.
Mas não se torna um estereótipo de chanchada operística porque sua origem shakespeariana o enriquece com sutis ambiguidades. Falstaff é também ingênuo, crédulo quanto à consistência real de seus sonhos, avesso ao fatalismo segundo o qual a aventura e o amor seriam coisas reservadas aos mais jovens e mais belos.
"Tudo na vida é burla", diz ele numa das passagens mais conhecidas. "Todos os homens riem dos demais mortais, mas ri melhor quem ri a risada final."
A ação deveria, em princípio, se passar entre o final do século 14 e o comecinho do século 15. Mas o diretor José Possi a transplantou para fins do século 19.
Foi o período em que a própria ópera foi escrita. "Acredito que Verdi e Boito prenunciam com ela um cinismo e uma amargura jocosa que caracterizariam em seguida o século 20", diz Possi.
A nova montagem paulistana não cai na tentação das abstrações. Como o público praticamente desconhece a história, é preciso assumir cada ingrediente da narrativa de forma explícita, didática. E para tanto os cantores escolhidos formam, pelo desempenho anterior, um elenco de também bons atores.
O papel de Falstaff é cantado pelo barítono norte-americano Frederick Burchinal, que esteve em São Paulo em 1997, como Scarpia, numa "Tosca", de Pucini. É um cantor de primeiríssima linha, com três aparições na atual temporada do Met de Nova York. Os demais intérpretes são brasileiros.
Alícia, cortejada pelo bufão, será a soprano Eyko Senda. Seu marido ciumento, Ford, será cantado pelo barítono Manuel Álvares. Nannetta, a filha do casal, o será pela soprano Rosana Lamosa, e Fenton, o amante dela, pelo tenor Fernando Portari.
Estarão ainda no elenco o tenor Mauro Wrona (Dr. Caius), o baixo Sávio Sperandio (Pistola) e as meios-sopranos Luciana Bueno (Meg Page) e Regina Elena Mesquita (Mrs. Quickily).


FALSTAFF. Quando: hoje, sexta e terça (27), às 20h30; domingo, às 17h. Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, centro, tel. 222-8698). Quanto: de R$ 15 a R$ 100. Vendas por telefone: 6846-6000.


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