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Saint Clair Cemin vai do rococó à arte conceitual em retrospectiva
Artista gaúcho radicado em Paris ganha exposição no Instituto Tomie Ohtake
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Três graças se juntam num
passo de dança, mas uma é cubista, outra futurista e a terceira rococó, o que faz o baile descambar para um samba do
crioulo doido. Na retrospectiva
do escultor Saint Clair Cemin,
que o Instituto Tomie Ohtake
abre hoje, fica evidente a polifonia, para o bem ou para o mal.
"Eu uso estilos como quem
usa cores", resume Cemin, 57.
"Cada estilo é
uma janela para
mais possibilidades artísticas."
No bronze síntese da exposição,
a tela renascentista de Rafael, ou a
escultura neoclássica de Antonio
Canova, com as
três graças em
harmonia perfeita, acabam traduzidas no cozidão
de estilos de Cemin, capaz de juntar Aleijadinho a
Joseph Beuys.
Logo na entrada, uma obra em
gesso é pretexto
para exibir o virtuosismo do escultor, que executa um panejamento em sentido clássico, ou
seja, a representação pétrea das
dobras e pregas do tecido.
Mais adiante, resíduos formais de surrealistas como Salvador Dalí vão ressurgir numa
espada molenga, tentáculos de
um molusco metálico e uma cadeira gigantesca, de encosto
alongado e pernas bambas.
O barroco de Aleijadinho é
revisto em duas figuras que se
atraem e repelem ao
mesmo tempo. Em
aço inoxidável, reluzente até não poder
mais, "O Pensador" de
Rodin ganha releitura
à luz de Takashi Murakami. Uma cadeira
de ferro, refletida à
exaustão por um jogo
de espelhos, é aceno
ao conceitualismo de
Joseph Kosuth.
"A falta de uma linha contínua tem sido
a única linha contínua
no meu trabalho", admite Cemin, que se
define "onívoro em
termos de arte".
É a deixa para aludir ao "metabolismo
elétrico, digital" de
"Computer", escultura em madeira rústica com um
nó de troncos retorcidos, índice
dessa digestão de influências.
Cemin, artista "sem estilo",
parece mostrar mastigados
conceitos-chave da produção
escultórica moderna. Sua retrospectiva escancara o método antropofágico por trás do
trabalho e toma ares de mostra
coletiva, como se tentasse reunir o melhor representante de
cada período, embaralhando
forma, conteúdo e ornamento.
Arrancando outra mordida,
agora na literatura, parece evocar o poema em que T.S. Eliot
escreveu: "O tempo presente e
o tempo passado / Talvez ambos estejam presentes no tempo futuro, / E o tempo futuro
contido no tempo passado".
De um monte de areia no
meio do espaço expositivo, surge uma roda de bronze, a forma
liberta da matéria amorfa. Com
o nome "Childhood", ou "infância", atravessa tempos, do
embrião à fixidez da forma final, juntando todas as épocas,
de Eliot e Antonio Canova aos
dias de hoje, ontem e amanhã.
SAINT CLAIR CEMIN
Quando: abertura hoje, às 20h; ter. a
dom., 11h às 20h; até 5/7
Onde: Instituto Tomie Ohtake (r.
Coropés, 88, tel. 2245-1900)
Quanto: entrada franca
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