|
Próximo Texto | Índice
MÚSICA ERUDITA
Tan Dun, compositor chinês, rege arrojado programa apenas com três obras suas, na Sala São Paulo
A Osesp sem medo de ser vanguarda
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
"Ninguém gosta de música
contemporânea." "É só
para iniciados." Quem não vai a
concertos continua dizendo essas
coisas. Enquanto isso, a Sala São
Paulo encheu de gente, em pleno
feriadão, para escutar a Osesp tocando um programa só de obras
do compositor chinês Tan Dun
(1957), regidas pelo próprio.
Em 2001, na mesma sala, a Filarmônica de Nova York já havia tocado seu "Concerto para Aquapercussão e Orquestra". Aquapercussão: cubas d'água, aquafone (espécie de viola, tocada com
arco), tubos e cuias que se põem
na água alterando seu som. A
mesma peça fechou o programa
anteontem, interpretada pelo espetacular David Cossin, acompanhado pela orquestra, que obviamente estava gostando, para não
dizer que estava se divertindo.
A platéia também. Sem nenhum demérito, é música fácil de
gostar. E não apenas pelo fascínio
dos instrumentos novos e dos
efeitos sonoros inusitados.
Nessa como nas outras peças
(dois episódios do "Teatro Orquestral"), Tan Dun combina elementos da música tradicional chinesa com outros tantos da música
ocidental de vanguarda, num ambiente dramático. Silêncios ganham eloquência. Sons isolados
vão se alterando aos poucos, ensinando o ouvido a ser zen. Golpes
da orquestra inteira sugerem os
rasgos de um pincel de calígrafo,
criando mil sentidos e cores de
uma vez. Melodias quase folclóricas aparecem aqui e ali, com seus
encantamentos pentatônicos.
O tempo se alterna entre os lentos densos e os andantes leves,
chegando aos vivos "mecânicos",
à la Stravinski; noutro extremo,
abre espaço para ocasionais "cadenzas" e improvisações.
Dun começou na ópera ("Marco Polo", 1995); e sua música tem
sempre um sentido apurado de
drama. Nunca escreve menos do
que bem; ouvintes pouco generosos dirão que também não passa
disso. Será pouco? Na literatura,
sugere equivalências com romancistas como Martin Amis, Milan
Kundera, Umberto Eco.
Nem toda boa orquestra é uma
orquestra boa para tocar música
contemporânea. A Osesp vem se
revelando uma amiga dos novos e
estava afiada sob a regência do
ágil, preciso e sempre simpático
compositor. Em "Orchestral
Theater 2", que exige a participação de músicos espalhados pela
sala, sem falar na platéia (que canta "hummmmm" e entoa um
mantra), Dun foi bem auxiliado
por Wagner Politschuk, trombonista da Osesp, atual regente titular da Sinfônica da Universidade
Estadual de Londrina.
"Simpatia" e "maestria" são palavras que ocorrem, para um concerto assim. Talvez até "alegria".
Certamente ninguém sai triste, ou
entediado. Quem diria! Era música contemporânea. Grande sucesso, grande precedente; já se sabe
quem vem em 2004?
Tan Dun
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes,
s/nš, tel. 3337-5414)
Quando: hoje, às 16h30
Quanto: de R$ 16 a R$ 52
Próximo Texto: Show: Roger e Monokini "brincam" de Beatles e Mutantes Índice
|